Varanda

Voltei a abanar a cabeça, agarrando no nosso gato, colocando-o em cima das minhas pernas, dando espaço a Ariel para que se sentasse. - Ele não deve ter dormido nada de jeito e foi para a escola. - revirei os olhos, eu até pensei que ele nem tivesse dormido em casa, mas ele fechava-se de tal forma, às vezes, que nem me apercebia dele.

Fui sentar-me ao lado dele, olhando para a varanda com um sorriso e passei as pontinhas dos dedos pela cabecinha do gato. Ri-me baixinho quando ele começou a reclamar e encostei a cabeça ao sofá.
- És um irmão galo, não és? - olhei-o.

Mordi o lábio quando percebi que estava a ficar muito resmungão por causa do meu irmão e assenti com a cabeça à sua pergunta enquanto me ria e olhava para o gatinho. - Sou um bocado - encolhi os ombros - ele é meio doido - nada que eu não fosse - e um bocado passado, deves ter reparado.

Sorri pela forma como falava do irmão e acabei por soltar um pequena gargalhada. Eu também era assim com Mike, apesar de andar mais afastada agora. Aliás, nos últimos meses andava afastada de tudo.
- Ele tem de sair a alguém, não é? - brinquei, dando-lhe um pequeno encontrão.

Ri-me quando a ouvi e encolhi os ombros. - Já fui mais como ele - disse, era assim à três meses, até perceber que ir morrer dentro de seis e agora dentro de três. Saber isso não fazia bem à sanidade de ninguém nos primeiros meses, mas eu tinha-me safado. - Tens irmãos? - perguntei.

Estiquei uma mão para fazer festinhas ao gatinho, que estava todo aconchegado no colo de Ryan, e olhei-o, assentindo.
- Tenho um.- sorri.- é o Mike, tem cinco anos.- mordi o lábio.- mas desde aquilo que não o vejo.- encolhi os ombros.

Endireitei-me quando ela disse que não o via desde o tsunami. - Estás a gozar comigo? - perguntei baixinho olhando para o gato quando ele levantou as sobrancelhas - não vês o teu irmão desde aquilo? - passei as pontas dos dedos pelo seu cabelo e abanei a cabeça, todo decidido - vais vê-lo hoje.- fiz uma careta - onde é que vivem?

Desviei o olhar para ele e suspirei por ficar tão surpreendido, era esta a reacção de toda a gente.
- Não me julgues.- pedi baixinho e arregalei os olhos mal ele disse que eu o ia ver hoje.- não.- murmurei.- não é preciso.- abanei a cabeça.- eu vejo-o depois.- fiz um gesto qualquer com a mão.

Abanei a cabeça quando começou a adiar e agarrei-lhe no queixo, olhando-a - é teu irmão, ele precisa de ti - murmurei - não o vês há demasiado tempo, vamos vê-lo - pedi-lhe - porque é que estás a adiar? Ele pode deixar-te melhor.

Mordi o lábio quando senti a sua mão no meu queixo, mas voltei a baixar o olhar para as minhas pernas.
- Não precisa nada.- disse baixinho.- ele tem os meus pais.- encolhi os ombros.- e já nem se deve lembrar de mim.

Voltei a levantar-lhe o olhar, fazendo cara de mau, como aviso se os voltasse a deixar - vamos vê-lo - apontei para fora, mas no fundo era para o meu irmão - estive fora durante um ano, num suposto estágio quando tinha quinze - suposto porque tinha andado pelo hawaii num concurso - e quando cheguei a casa o meu irmão estava assim - disse fazendo parecer que ele estava alto - e mesmo assim agarrou-se a mim e só me largou meio ano depois. E ele já tinha catorze. Imagina o teu irmão.

Fiquei a olhar para onde ele apontava, apesar de não estar lá nada e quando ele começou a falar, os meus olhos encheram-se de lágrimas. Eu tinha-lhe prometido que ia ganhar aquele concurso por ele, e tinha falhado..e..ele era louco pelo surf, tal como eu, eu não conseguia ouvi-lo sempre a falar disso.
- Eu prometi que ia ganhar aquele concurso por ele Ryan.- funguei.- e eu prometi que lhe ia ensinar como surfar.- abanei a cabeça.- já não posso fazer nada disso agora.- encolhi os ombros.- não o quero ver desiludido comigo.- solucei, tapando a cara com as mãos.

Suspirei puxando-a de novo para mim e abanei a cabeça, tirando-lhe as mãos da cara - Ariel, isso não muda nada - murmurei - ele não vai estar desiludido contigo. - limpei-lhe as bochechas - ele vai estar feliz porque tu sobreviveste. - suspirei levemente, já eu não ia sobreviver - não chores mais e recompõe-te que eu quero que me digas onde é que eles vivem.

Dei por mim a encostar a cabeça ao seu ombro mal me puxou para ele e funguei baixinho, fechando os olhos quando me limpou as bochechas.
- Não vais desistir, pois não? - perguntei baixinho, olhando para cima, para ele.

Abanei a cabeça quando perguntou se ia desistir. Passei a mão pelo seu cabelo e sorri-lhe - anda - levantei-me puxando-a para que se levantásse também - ele vai ficar feliz por te ver e se lhe explicares tenho a certeza que ele perceber, apesar de ser uma criança.

Soltei um suspiro e deixei que me puxasse, passando depois as mãos pela minha cara. Devia estar num estado lastimável.
- Espero que sim..- disse baixinho e estiquei-me para lhe beijar a bochecha.- obrigada.- murmurei.

Sorri-lhe quando me agradeceu e a abanei a cabeça - De nada - disse puxando-a até ao meu quarto - toma - dei-lhe um pacote de lenços e agarrei nos meus comprimidos tomando-os. - É preciso ir de carro? - perguntei depois de dar um gole na água.

Subi a seu lado até ao seu quarto e agarrei nos lenços, tirando de lá um para me assoar. Passei as mãos pelo cabelo, dando-lhe um jeito e encolhi os ombros à sua pergunta.
- É ao pé da praia onde foi a festa.- mordi o lábio.- é preciso? - eu não saía muitas vezes de casa, não era muito boa com isto das distâncias.

Passei as mãos pela testa quando a senti doer e olhei-a assentindo com a cabeça para lhe responder - sim, ainda fica a um bocado daqui - disse esticando-me até a um dos meus cigarros. Mostrei-lhe antes que se passasse - é medicinal, não sou nenhum contrabandista

Assenti quando percebi que era melhor irmos de carro e quando me mostrou o seu cigarro, encolhi os ombros.
- Dá-me um.- pedi, esticando a mão.

Arregalei os olhos quando me pediu um e olhei para eles, tinha suficiente e ainda dava uns ao meu irmão por isso, dei-lhe um enquanto a olhava pelo canto do olho.
-Se isso é por causa do teu irmão, não vai resolver de nada.

Agarrei no cigarro quando mo deu e fiquei a olhar para ele, abanando depois a cabeça para responder ao que ele disse.
- Não é por causa dele, eu já fumava antes.- encolhi os ombros.- mas é só de vez em quando.

Abanei a cabeça quando disse que já fumava antes - isso faz-te mal aos pulmões - não podia falar muito agora, mas nunca tinha fumado antes, a não ser um ou outro num dia de festa quando ficava mais bêbado, gostava de me manter limpo por causa do surf. Saí de casa, fechando a porta e agarrei na sua mão para a puxar até ao meu carro.

Fiz uma careta assentindo, a concordar com o que dizia. Mas eu não fumava muito, só quando estava mais tensa ou mesmo só em festas, não era das coisas que mais gostava.
- Eu sei, mas é só de vez em quando.- acendi o cigarro, saindo com ele de casa. Agarrei na sua mão com a livre e olhei-o.- eu só comecei a fumar depois..- abanei a cabeça.- não interessa, eu não exagero..- encolhi os ombros.- nem sequer gosto muito, mas ajuda a relaxar.