Praia Virginia Key

Parei em frente ao semáforo quando vi que estava vermelho e aproveitei para olhar para Ryan, a tempo de o ver revirar os olhos. Juntei as sobrancelhas, elevando-as ligeiramente e suspirei com as suas perguntas, abanando a cabeça.
- Não.- murmurei baixinho, encolhendo-me ligeiramente no banco e acabei por encolher os ombros.- eu conto-lhes agora.- disse apenas e arranquei depois de ver a luz verde.

Mordi o interior da bochecha olhando-a de lado e suspirei. Preferia que ela não contasse, isso era bom sinal, mas como ia tudo acontecer, era preferível. Olhei pela janela durante todo o tempo em que viajámos no carro e estive quase para fechar os olhos e deixar-me dormir mas percebi que estávamos a chegar. Endireitei-me no banco e tirei o cinto quando ela estacionou, suspirando baixinho.

Se calhar a ideia de termos vindo visitar os meus pais não era assim tão boa quanto tinha parecido. Eu não queria contar-lhes, eu não queria que tudo isto fosse verdade, e o facto de estarmos ali, só piorava a situação. Parei o carro junto do passeio assim que chegámos e olhei para Ryan, a tempo de o ver suspirar. Suspirei também, mordendo a parte de dentro da minha bochecha com força e estiquei-me para ele, tocando-lhe na bochecha para que olhasse para mim.
- Não temos de estar aqui se não quiseres.- murmurei, acariciando-lhe a bochecha e acabei mesmo por me esticar até lhe conseguir beijar os lábios. Odiava o facto de saber que ele estava a sofrer e que por mais que eu quisesse, não conseguia fazer nada para evitar isso.

Olhei para Ariel quando senti a sua mão na minha bochecha e assenti com a cabeça - eu sei - disse baixinho - mas eu quero - sorri um bocadinho para ela não ficar com dúvidas e aproximei-me de novo dela quando se afastou depois de me beijar, beijando-a de novo. - E vamos entrar - disse abrindo a porta para sair do carro, indo ter com ela e dando-lhe a mão.

Assenti enquanto olhava o seu sorriso, apesar de não me estar a convencer muito, e depois de corresponder ao seu beijo, saí do carro. Tranquei-o, esperando que Ryan viesse ter comigo e entrelacei os meus dedos nos seus, encostando-me depois ao seu corpo. Suspirei baixinho, preparando-me mentalmente para o que se seguia e fui com ele até à porta. Tirei a minha chave da mala, apertando ligeiramente a mão de Ryan enquanto abria a porta e depois entrei com ele.
- Quem é? - ouvi a minha mãe gritar da cozinha, o que me fez sorrir ligeiramente, por imaginar que estava toda atarefada a fazer um bolo ou algo do género.
- Anda.- falei baixinho para Ryan, puxando-o para que viesse comigo até à cozinha e assim que lá cheguei, já a minha mãe estava à porta.
- Ryan! - ela exclamou toda feliz, aproximando-se dele para lhe dar dois beijinhos.- que bom ver-te querido.- semicerrei os olhos, olhando-a.
- Sim mãe, também tinha muitas saudades tuas.

Entrei atrás de Ariel em sua casa e olhei para a porta da sala que estava aberta para ver se via o seu irmão, mas não tive tempo, porque a sua mãe veio logo ter comigo. Sorri dando-lhe também dois beijinhos - Também é bom vê-la - sorri olhando para Ariel e fiz-lhe um olharzinho para que ela contasse, afinal, não era eu que do nada ia dizer que estava a morrer.

Sorri ao ver a minha mãe e Ryan e continuei a sorrir quando ela me veio dar finalmente dois beijinhos. Dei-lhe um também, na testa, e olhei pelo canto do olho para Ryan, vendo-o fazer-me aquele olhar. Mordi o lábio inferior com força, soltando um longo suspiro e nem foi preciso eu abrir a boca que a minha mãe reparou que algo se passava.
- Há alguma coisa que me queiram contar? - perguntou, olhando-nos com atenção. Engoli em seco, sentindo o meu coração apertar-se e encolhi-me ligeiramente antes de assentir.
- Há, mãe..
- Ryan! - virei a cara de repente quando ouvi a voz do meu irmão e já só o vi correr para se agarrar às pernas de Ryan.- tivemos saudades tuas.

Senti o meu coração disparar quando Ariel estava prestes a contar o que se passava, mas o irmão dela impediu-a. Sorri levemente quando ele se veio agarrar às minhas pernas e fui-me baixinho puxando-o para o abraçar. - Olá puto - murmurei afastando-me e cerrei a mão num punho para que ele batesse no meu fazendo de seguida um som todo estranho como se ele tivesse explodido. Ri-me quando ele também se riu e despenteei-o. - como é que foi com as flores e com o desenho? - perguntei.

Eu sei que o suposto era querer contar tudo de uma vez por todas, despachar o assunto, mas a verdade era que eu não estava preparada, nem para aceitar nem para ver a minha mãe e o meu irmão fazê-lo, e por isso, estava bastante aliviada por o meu irmão ter aparecido. Sorri, olhando para os dois e sorri ainda mais ao ver o meu irmão agarrar-se ao pescoço de Ryan com um aorriso todo contente.
- Ela desculpou-me.- disse, falando da Cate.- e gostou muito das flores.- disse com um ar todo engatatão.- ensinas-me mais truques? - era tão bom ver que o meu irmão gostava dele, apesar de tudo, isso era importante para mim.

Ri-me abraçando o puto quando ela disse que Cate o tinha desculpado e acabei por pousa-lo no chão. Eu não podia fazer isto. Não queria acabar com a felicidade dele porque sabia que ele tinha gostado de mim, mas se não o queria magoar mais do que ele já estava magoado não me podia aproximar tanto como me tinha aproximado de Ariel. Tinha sido uma estupidez, uma estupidez boa, mas uma estupidez. Olhei para Ariel sabendo que ela não ia dizer tão cedo, eu não queria ficar ali naquela casa sem lhes dizer a verdade por isso quando voltei a olhar para a mãe dela, que parecia um bocado confusa ainda respirei fundo e foi só falar. - Estou a morrer - murmurei - estou praticamente morto em dois meses, ou menos.- olhei para ela engolindo em seco e depois para Mike. - Era isso que ela ia dizer.

Eu sabia que era injusto, tanto para a minha mãe, que estava ali sem sber de nada, como para Ryan, que provavelmente não se sentia bem em estar ali sem que eles soubessem o que se passava. Mas eu não conseguia, eu era egoísta ao ponto de preferir que ali não estivéssemos, eu não queria encarar a realidade, eu não queria passar por tudo aquilo de novo, eu queria-o na minha vida, eu precisava dele na minha vida. Porém, a minha mãe também merecia saber. Levantei a cabeça, depois de respirar fundo, e estava prestes a contar, mas Ryan fê-lo por mim. Arregalei ligeiramente os olhos, juntando as sobrancelhas e olhei para a minha mãe, com o coração a apertar-me tanto o peito que eu começava a ter dificuldadees em respirar.
- Estás a morrer? - a minha mãe perguntou ainda em choque.
- O que é que tu tens? - foi a vez do meu irmão falar, já com os lábios a formarem um beicinho. Respirei fundo, para não começar também a chorar, e aproximei-me do meu irmão, passando uma mão pela sua bochecha, visto que ele não se largava de Ryan.
- O Ryan está doente Mike.- falei calmamente, apesar de o nó que tinha na garganta não me facilitar a tarefa.
- Não podes morrer.- Mike soluçou, agarrando-se a ele com força.- a mana está feliz e eu gosto de ti.- ele choramingou.- tens de ficar bom.

Tinha medo de ter feito porcaria por causa do irmão dela, talvez ele ainda não tivesse bem noção do que é que estava a acontecer, mas agora já estava feito, não havia nada a fazer. Olhei para a mãe de Ariel vendo-a em choque e apenas assenti com a cabeça. - segundo os médicos não passa deste mês - engoli em seco quando vi Mike agarrado a mim a chorar e agarrei nele abraçando-o com força enquanto ele chorava - vais ficar bem - disse-lhe - segue os meus conselhos e vais ficar um galã - ri-me um bocado forçadamente e passei as mãos pelo seu cabelo enquanto o olhava - não chores. - antes que eu começasse a chorar também.

Assim que Ryan disse à minha mãe que não passava deste mês, ela olhou-me, fazendo aquele olhar que eu já conhecia. Ela sabia que eu estava a sofrer, que eu estava a sofrer porque estava tudo a acontecer de novo, mas era mais forte do que eu, eu não conseguia evitar estar com ele, já era tarde demais para isso.
- Eu lamento que isto te esteja a acontecer meu querido.- disse a minha mãe, aproximando-se de Ryan para o abraçar, assim como a Mike, que estava inconsolável.- se ao menos pudéssemos ajudar-te de alguma forma.- suspirou. O problema era mesmo esse, ninguém podia fazer nada, eu não podia fazer nada para o ajudar, para poder ficar com o rapaz de quem gostava. Abanei a cabeça, sentindo a minha visão desaparecer por completo por causa das lágrimas e logo me virei ligeiramente para as limpar, eu não ia chorar à frente dele, já lhe tinha prometido isso. Voltei a virar-me para eles quando Mike falou.
- Não vai ser a mesma coisa.- ele disse.- eu não quero que vás embora.- voltou a dizer, fazendo-me aproximar.
- Olha para mim Mike.- pedi, tocando-lhe na bochecha molhada, mas ele apenas abanou a cabeça, deixando-se estar abraçado a Ryan. Suspirei, colocando uma mecha de cabeça atrás da orelha e afaguei-lhe as costas.- se continuares a chorar o Ryan vai ficar triste.- murmurei.- e eu sei que gostas muito dele e que não queres que ele fique triste, não é? - ele assentiu devagarinho, calando um soluço.- anima-te príncipe, aproveita que ele está aqui contigo agora. - forcei um sorriso, vendo-o levantar a cabeça devagarinho, olhando para Ryan com os olhos todos vermelhinhos.
- Queres vir ver a minha prancha? - perguntou baixinho, fazendo força no queixo para ele parar de tremer.

Olhei para a mãe de Ariel sentindo o seu abraço e abracei-a com o meu braço livre sorrindo levemente - já está a ajudar - disse com um meio sorriso. Olhei para Ariel para ver se ela estava bem e observei bem os seus olhos mordendo o interior da bochecha. Olhei Mike quando me implorava para não ir e respirei fundo ficando apenas a dar-lhe festinhas nas costas agradecendo mentalmente a Ariel por o ter conseguido acalmar. Sorri quando ele se virou para mim a perguntar se queria ir ver a prancha dele - claro que quero - disse colocando no chão, ficando agarrado à sua mão - anda lá.

Olhei para a minha mãe depois de ele ter feito o mesmo assim que se afastou de Ryan e apenas assenti, dando-lhe a entender que estava tudo bem. Não estava, de todo, mas não queria preocupá-la. Passei as duas mãos pela cara, respirando fundo e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, aproximando-me dos dois depois de Ryan ter posto Mike no chão, que estava agora completamente agarrado ao seu braço.
- Está na varanda, a minha mãe não deixa que ela fique no quarto.- queixou-se.- diz que é muito grande.- encolheu os ombros.- mas eu gostava de dormir com ela.- sorri, abanando a cabeça e agarrei na outra mão livre de Ryan, entrelaçando os meus dedos nos seus.
- Deixa de ser tagarela pirralho.- brinquei, vendo-o olhar-me com cara de mau, mas logo esqueceu isso, puxando Ryan até à varanda da sala, visto que era lá que estava a sua prancha. Abri a porta, para que saíssemos e sorri ao ver a sua prancha, toda pintada de azul mas com o seu nome em letras brancas, encostada à parede. Ryan sorriu também, passando uma mão pela prancha, e depois olhou para Ryan.
- Gostas?

Forcei-me a rir quando Mike se queixou de não poder dormir com a prancha dele - tens de ver o meu quarto - disse-lhe passando a mão pelo seu cabelo olhando depois para Ariel e puxei-a pela cintura entrelaçando depois os nossos dedos. Sorri quando saímos da sala para entrarmos na varanda e olhei a prancha dele esticando uma mão até à mesma, que era praticamente da minha altura, por ele ainda ser tão pequeno - eu tive uma parecida, também tinha o meu nome. - sorri a Mike e toquei-lhe no queixo. - vais ser um campeão.

Fiquei encostada a Ryan enquanto o ouvia falar com o meu irmão mas sinceramente, eu não estava a ouvir grande coisa. Tinha demsiadas coisas na minha cabeça que não me deixavam pensar em mais nada sem ser no que tinha acontecido na cozinha e no que ia acontecer quando este mês chegasse ao fim. Soltei um suspiro baixo, tentando concentrar-me na conversa deles para parar de pensar naquelas coisas e vi Mike sorrir quando Ryan disse que ele ia ser um campeão.
- Eu quero ser como a minha mana.- ele disse, olhando para mim.- ela agora não vai para a água, mas eu sei que isso vai passar.- ele assentiu.- e depois ela vai voltar a ganhar muitas coisas e vai ensinar-me os truques.- mordi o lábio com força, sentindo o meu coração apertar-se. Custava-me ouvir o meu irmão dizer estas coisas e pensar que naquele momento eu não o conseguia ajudar a conseguir o que queria.

Sorri pela maneira orgulhosa que ele falava da irmã e baixei-me para ficar da altura dele, afagando-lhe as costas - a tua mana hoje foi comigo à praia -disse também da mesma maneira que ela - molhou os pés e tudo, está a fazer um avanço muito bom, em breve vais tê-la a ensinar-te os truques dela - disse-lhe e voltei a levantar-me olhando em volta - vamos para dentro? - perguntei virando-me para Ariel, ainda tinha que falar com ela.

Sentei-me numa das cadeiras que haviam junto da mesa que havia na varanda e fiquei a olhar para os dois, sorrindo ao de leve quando Ryan começou a contar a Mike o que tínhamos feito de manhã. O meu irmão levantou as sobrancelhas, olhando por cima do ombro para mim e eu assenti, confirmando o que Ryan tinha dito.
- Vais por a minha mana boa? - ele perguntou, todo entusiasmado e abraçou-se ao pescoço dele.
- Eu não estou doente Mike.- disse, forçando uma gargalhada, mas nem insisti muito, ele estava tão contente e orgulhoso que eu não lhe queria estragar o momento. Olhei para Ryan, quando também olhou para mim e assenti, levantando-me da cadeira.- vamos, a minha mãe já deve estar quase a vir chamar-nos para comer.

-E eu estou a morrer de fome - disse, na verdade não estava, mas acho que dava para sentir a minha ironia na frase. Dei a mão a Mike para ele não andar sempre todo agarrado às minhas pernas e ainda caísse. Sorri-lhe quando o olhei, não o queria deixar triste, nem sabia como é ia conseguir embora, quando fosse para casa. Quando chegámos à cozinha que era onde estava a mãe de Ariel, sentei-me numa cadeira e fechei os olhos ao sentir uma dor fininha e aguda na minha cabeça.

Soltei um pequeno suspiro com o tom irónico com que Ryan falou, mas não disse nada por causa de Mike. Passei uma mão pelo cabelinho dele, quando passei por eles e fui à sua frente até à cozinha, vendo a minha mão colocar quatro pratos na mesa assim que lá chegámos.
- Ia agora chamar-vos para comer.- ela disse, com um pequeno sorriso e olhou para Mike que continuava todo agarrado a Ryan.- vai lavar as mãos amor.- pediu, no seu tom doce e Mike juntou as sobrancelhas, olhando para a sua mão agarrada à de Ryan.
- Ele vai estar aqui quando voltares Mike, podes ir.- disse-lhe, para que descansasse e depois de ir, eu olhei para Ryan que entretanto se tinha sentado. Aproximei-me, sentando-me na cadeira ao lado da sua e toquei-lhe no ombro quando o vi de olhos fechados.- o que se passa? - perguntei no mesmo tom com que tinha falado com Mike.

Sorri levemente a Mike quando ele foi embora e voltei a olhar Ariel abanando a cabeça. - Nada - disse puxando-a para o meu colo, visto que a cadeira ainda estava afastada da mesa e ela tinha espaço para se sentar. Olhei para a mãe dela quando me lembrei - precisa de ajuda? - perguntei-lhe esticando a cabeça para a conseguir ver.

Sorri levemente assim que senti Ryan puxar-me para o seu colo e rodeei o seu pescoço com os meus braços ao mesmo tempo que me ajeitava em cima dele.
- Não querido, isto já está quase pronto.- ouvi a minha mãe falar, respondendo à pergunta de Ryan e eu deixei-me estar muito encostadinha a ele, deitando a cabeça no seu ombro. Só queria ficar assim com ele para sempre, sem nada a separar-nos. Rocei o meu nariz no seu pescoço, para sentir o seu cheirinho e depois, subi os meus lábios até ao seu maxilar, dando-lhe um pequeno beijinho no mesmo antes de me abraçar ao seu corpo.

Sorri à mãe de Ariel e olhei a filha beijando-lhe a testa quando encostou a sua cabeça ao meu ombro. Encostei o meu queixo ao seu ombro e fiquei a dar-lhe festinhas nas costas - amanhã vou passar o dia com o meu irmão - disse-lhe baixinho - podes ficar cá se quiseres, a tua família também precisa de ti - levantei a cabeça para a olhar.

Eu estava a controlar-me para não chorar, mas uma das coisas que eu não conseguia controlar era o meu estado de espírito. Isto também era difícil para mim. Deixei-me estar encostada a Ryan, agarrando numa das suas mãos e entrelacei os nossos dedos, ficando a sentir as suas festinhas nas minhas costas. Fechei os olhos durante uns segundos, soltando um suspiro e só os voltei a abrir quando o ouvi falar.
- Não, eu quero dormir contigo.- disse logo, endireitando-me.- eu posso deixar-te sozinho com o teu irmão amanhã, mas eu quero ir contigo hoje.- murmurei. Quase que parecia Mike cheia de medo.- quer dizer..- mordisquei o meu lábio inferior, olhando-o.- posso?