Hospital

A primeira coisa que ele me mostrou foram as análises, dizendo que estava tudo bem por enquanto e que isso era bom, queria dizer que não se tinha espalhado, mas que como o meu tumor era no cerebro tornava tudo diferente. Olhei para o envelope maior que era o que me mais interessava e ele ia abri-lo, mas olhou para Ariel meio desconfiada - ainda não falamos de si - fiz uma careta quando percebi que o médico falava com ela - é namorada? O que é que faz?
-É surfista, podemos ver?- perguntei meio impaciente.

Eu não percebia nada de medicina, mas pelas coisas que o médico dizia a Ryan, dava para perceber que estava tudo bem com o primeiro envelope. Nem tudo podiam ser más notícias. Apertei-lhe a māo com um sorriso e fui obrigada a desviar o olhar de novo para o homem quando percebi que estava a falar para mim. Fiquei a olhá-lo enquanto o fazia e dei por mim q revirar os olhos de novo.
- Nāo me parece que seja a melhor altura para saber coisas sobre mim.- murmurei.- há coisas mais importantes, como abrir esse envelope.- disse, apontando com o queixo para o mesmo.

Olhei para Ariel e depois para o médico que a olhava meio desconfiado mas lá assentiu abrindo o envelope e ficando a olhar para ele. Engoli em seco mordendo o meu lábio inferior com força e assim que vi a sua expressão percebi que não vinha aí boas notícias.
-Ele cresceu - virou-se para mim - vou ter mesmo que receitar uns comprimidos mais fortes. - mordi a parte de dentro da bochecha e assenti com a cabeça. - E se calhar.. é melhor começar a meter na cabeça que tem que começar a descansar.

Eu não conseguia gostar daquele homem, nem que me pagassem. Encolhi os ombros a Ryan assim que me olhou e ia reclamar se o médico nāo tivesse aberto o outro envelope. Se bem que, rapidamente me arrependi de o ter apressado. O tumor estava a crescer, tinha crescido mais, o que significava que o meu tempo com Ryan estava a esgotar-se, cada vez mais perto do fim. Mordi a oarte de dentro do meu lábio com força suficiente para deixar de o sentir e engoli em seco, absorvendo cada palavra do médico. Ele precisava de descanso. Nāo disse nada, desviando apenas o olhar para Ryan e suspirei baixinho, levando a sua māo à minha boca. Ia falar com ele depois.

Eu não queria descansar, eu só queria aproveitar. Não. Ainda pensei em lhe pedir para dizer quantos meses, mas não queria, não queria mesmo, já bastava disto. - Está bem? - perguntou tentando ter alguma reacção minha - e nada de emoções fortes - disse olhando para Ariel.
-Como se isso fosse possível - abanei a cabeça e levantei-me com um suspiro, puxando-a para que fizesse o mesmo. O médico suspirou e agarrou nas minhas receitas dando-mas.
-Vou mandar uma e..
-Eu fico bem só com os medicamentos.
-Mas as...
-Eu fico bem só com os medicamentos - voltei a repetir e não deixei que ele falasse.

Assim que o médico desviou o seu olhar para mim, eu senti o meu coraçåo parar. Pois, emições fortes. A menos que eu me afastasse dele, isso ia ser impossível. Mas por mais egoísta que pudesse parecer, eu não ia fazê-lo, a menos que ele me pedisse. Agarrei na sua mão, levantando-me e esperei que saíssemos do consultório para depois o olhar, com uma cara séria. Esta última conversa tinha-me deixa intrigada.
- O que é que ele te queria receitar mais? - perguntei.

Desviei o olhar para Ariel quando já tinhamos saído do consultorio, apesar da minha cabeça não doer estava a mil neste momento e eu não sabia exactamente o que fazer. Passei a mão que tinha livre esfregando-a na minha testa e abanei a cabeça - uma enfermeira - disse - mas eu não estou inválido por isso - encolhi os ombros, agora ainda não estava.

Encostei a minha cabeça no seu ombro enquanto andávamos e só a voltei a levantar quando o ouvi falar.
- Uma enfermeira? - perguntei baixinho e senti o meu coração apertar-se. Isso queria dizer que...abanei a cabeça, respirando fundo e entrelacei os meus dedos nos seus.- eu cuido de ti.- murmurei.- não precisas de mais ninguém.- disse, mas rapidamente mordisquei o meu lábio de uma forma nervosa.- isto é, se quiseres que eu cuide de ti.- murmurei mais baixo, levantando o olhar para ele.

Quando a ouvi respirar fundo mordi a parte de dentro da minha bochecha levando-a até ao meu carro, só queria voltar para casa e estar um bocado sozinho, mas por outro lado não queria, queria que ela estivesse comigo - não sei - disse pressionando os lábios um no outro - estou a ser egoísta por te manter comigo - disse abanando a cabeça mal me sentei no meu carro.

Mal o vi respirar fundo, o meu coração disparou. E se ele não quisesse mesmo que eu cuidasse dele. Eu não ia conseguir, eu não ia conseguir afastar-me agora. Segui-o até ao carro e parei assim que o ouvi, virando-me para ele.
- Não sabes? - perguntei baixinho, mas ele logo terminou.- não.- abanei a cabeça e entrei no carro, obrigando-o a olhar-me.- nem penses em começar com essas coisas agora.- murmurei.- tu não me vais afastar de ti Ryan.

Olhei-a quando me obrigou e assenti com a a cabeça mordendo o meu lábio inferior, mas lá me estiquei até aos seus lábios, beijando-a, passando os dedos pela sua bochecha. Ainda me estava a passar por dentro mas estaria pior se ela não estivesse comigo. - Eu deixo que cuides de mim - disse-lhe baixinho desviando o olhar para o vidro da frente. - Vamos embora - disse arrancando dali para fora.

Assim que Ryan virou a sua cara na minha direcção, passei as pontinhas dos meus dedos na sua bochecha, sentindo depois os seus lábios nos meus. Cheguei-me o mais que consegui para ele, apesar de estarmos separados e sorri ligeiramente contra os seus lábios mal o ouvi dizer que me deixava tomar conta dele.
- Obrigada.- murmurei baixinho, com a minha testa encostada à sua e depois afastei-me, colocando o cinto, esperando que ele arrancasse.

Precisava de chegar o mais rápido possivel a casa, eu só esperava que esta fosse a minha última consulta porque depois disto começava a perceber que cada uma ia ser pior que a outra. Mas o pior mesmo era que o tempo se estava a acabar e eu ainda não tinha dito nada ao meu irmão. Tinha que ser hoje. Não, hoje não, talvez amanhã. Olhei para Ariel visto que já estavamos calados há algum tempo mas também não fui capaz de dizer mais nada, queria apenas chegar a casa.

Durante o resto da viagem, não se ouviu mais nada dentro daquele carro. Sinceramente, eu não sabia o que dizer, ainda não conseguia processar tudo o que tinha acontecido. Porque é que eu tinha de perder todos aqueles que amava? Tinha a minha família, mas primeiro tinha sido Tom e agora ia ser ele..eu recusava-me, sem Ryan eu não conseguia mesmo ficar. Eu não conseguia aceitar. Tinha de haver qualquer coisa que pudéssemos fazer, não podíamos desistir do nada. Olhei para a sua garagem assim que ele parou o carro e depois olhei-o, mordiscando o meu lábio.
- Queres que eu vá embora? - perguntei baixinho.- ou queres que fique?

Pouco depois chegamos ao hospital.
Dirigi-me à receção na qual disseram para aguardar um pouco.
Sentei-me numa cadeira.

Parei à sua frente. - Bem, já estás entregue, por isso vou bazar. - Olhei em volta.

Suspirei.
- Obrigada. - disse sorrindo. - Adeus!

Revirei os olhos. A miúda tinha mesmo a mania e estava a irritar completamente. Saí e voltei para o parque.

Passado pouco tempo chamaram-me e entrei numa sala onde levei 2 pontos na cabeça e me deram uns comprimidos para as dores.
Sai do hospital e reparei que não tinha os meus fones.
Suspirei e voltei para o parque.

Encerrado.

Limitei-me apenas a assentir, não sentindo vontade nenhuma de sorrir, apesar de o médico estar a ser bastante atencioso, e fiquei a vê-lo ir-se embora, depois de dizer que ia falar com o antigo médico de Ryan. Isso era outra coisa da qual eu ainda não me tinha esquecido e que ainda ia resolver. Era impossível deixar passar em branco uma coisa destas, Ryan tinha passado os últimos meses em sofrimento, a pensar que ia morrer..a afastar-se de pessoas por causa disso. Abanei a cabeça, tentando não pensar naquelas coisas naquele momento e voltei a concentrar-me nele, aproximando-me da cama onde estava deitado. Puxei uma cadeira para perto da mesma, sentando-me e estiquei uma mão até conseguir agarrar na sua, sentindo o meu queixo começar a tremer de novo.
- Eu estou aqui Ryan, eu não vou sair de ao pé de ti.- disse baixinho, debruçando-me até lhe beijar a mão.- e eu prometo que vai ficar tudo bem.- continuei a falar, como se ele me conseguisse ouvir.- mas tu tens de ser forte, ouviste? - funguei, passando a mão livre pela cara, visto que já estava a chorar.- tens de ser forte por ti e por mim.- disse, olhando os seus olhos fechados enquanto lhe apertava ligeiramente a mão, mas com cuidado.- porque eu preciso de ti, eu preciso muito de ti.

O médico novo de Ryan estava possesso, já tinha chamado a polícia e o seu pulso ainda estava dorido. Este rapaz podia ter morrido, ou ainda podia morrer, por causa destas mentiras. E Ryan também tinha sido burro em não ter pesquisado, mas a culpa não era, de todo, dele. Entrou no quarto, ao fim de algumas horas depois de ter deixado Ariel lá e, como era de prever ele ainda não estava acordado. - O médico dele está agora a ser preso por fraude e tentativa de homicídio.

Fiquei apenas a olhar para Ryan, enquanto agarrava na sua mão e lhe pedia para que lutasse por nós os dois, até ouvir a porta abrir-se e o médico aparecer de novo. Endireitei-me, não lhe largando a mão, e olhei-o, sentindo o meu maxilar cerrar-se só de o ouvir falar do outro homem, aquele que tinha dito a Ryan que estava a morrer.
- Ser preso é muito pouco depois de tudo aquilo que ele fez.- murmurei, tentando manter a calma.- eu vi como é que o Ryan ficou por causa das coisas que ele disse que ele tinha, eu vi como ele estava mal por pensar que ia deixar o irmão sozinho.- abanei a cabeça, apertando-lhe a mão com mais força e respirei fundo.- desculpe, isto é demasiada coisa ao mesmo tempo.- disse, já mais baixo, voltando a olhar para Ryan.- acha que ainda é possível ele acordar hoje?

O médico sorriu como que a concordar com ela e depois de ver como estava Ryan ele abanou a cabeça. - Pode acontecer, mas é muito improvável, a hemorragia foi muito grande e ele ainda está em grande perigo... - fez ele questão de dizer - mas vai acordar, esperemos que antes das 48 horas de perigo, era um grande sinal de melhoria. - O médico olhou para trás quando se ouviu uma barulheira e um rapaz veio com umas grandes olheiras para o quarto. - Não pode estar aqui - foi ter com o rapaz.
-Ele é meu irmão.

Olhei para o médico por cima do ombro, assentindo ao que disse com um pequeno suspiro e voltei depois a olhar para Ryan, ficando a fazer-lhe festinhas na mão.
- Eu só quero que ele acorde.- desabafei, mais para mim do que para o médico e acabei por me debruçar, dando-lhe um beijinho nos nós dos dedos. Juntei as sobrancelhas, endireitando-me de repente quando um barulho se fez ouvir, mas logo percebi que era Dylan, que não estava nada com boa cara.- deixe-o entrar.- pedi ao médico, depois de Dylan ter dito que era irmão de Ryan.- se for preciso eu saio.- disse mais baixinho.- ele também precisa de estar com o irmão.

O médico ficou mais calmo ao perceber que era apenas o irmão de Ryan, mas mesmo assim começou a empurra-lo, com calma, com uma mão no seu peito - Não pode entrar assim, tem que ir vestir uma bata - apontou para Ariel. O miúdo assentiu e olhou para Ryan afastando-se do quarto para se ir vestir. O médico voltou-se para Ariel - podem ficar aqui os dois, mas que fique bem assente que isto só está a acontecer por causa do problema que houve. - depois de ver de novo os sinais vitais de Ryan o médico saiu com um sorriso de despedida e logo a seguir, Dylan entrou devagarinho, agarrando logo na coisa que lhe tinham posto na cabeça mandando-a para cima da cama.
-Ele vai morrer agora? - perguntou.