Piscina

Fiquei a vê-lo sentar-se e engoli em seco, sentindo logo o meu coração martelar-me no peito. Mordi o lábio de forma nervosa e assenti, sentando-me no seu colo devagarinho. Ainda bem que ele sabia, porque eu também sabia, muito bem mesmo. Tentei que as minhas pernas ficassem o menos possível dentro de água e agarrei-me a ele, escondendo a cara no seu pescoço.
- Estou a tentar desesperadamente não entrar em pânico.- disse abafada, respirando fundo.

Encostei a minha cabeça à de Ariel assim que se encostou ao meu pecoço e dei-lhe festinhas pelo cabelo - respira, está tudo bem - olhei para as suas pernas debaixo de água - uma sereia só precisa de água na cauda. - agarrei-lhe no queixo, levantando-lhe o olhar.

Fiz o que ele me disse, respirando fundo algumas vezes e sorri levemente quando me chamou de sereia, mas rapidamente tudo passou quando uma das minhas pernas mergulhou ainda mais dentro de água. Estava gelada, tal como naquele dia. Fechei os olhos com força, sentindo o meu coração disparar e tudo o que eu menos queria aconteceu. As imagens começaram a aparecer na minha cabeça, umas atrás das outras. Primeiro a onda gigante, depois os gritos, as pessoas a correrem umas atrás das outras, a atropelarem-se pela sua própria sobrevivência, o choro das crianças, os gritos de dor de Tom, os meus próprios gritos.
- Não.- murmurei, remexendo-me.- não, não, não! - o volume da minha voz foi aumentando cada vez mais e foi como se de repente sentisse algo puxar-me o pé, como aconteceu quando fiquei submersa, fazendo-me encolher sobre o meu próprio corpo.

Tinha ficado distraido por breves momentos a pensar em Dylan e no torneio de amanhã e, quando voltei a olhar Ariel já só a vi a entrar em pânico. Abanei a cabeça, agarrando no seu corpo para que não se remexesse de mais e caísse para a água. - Está tudo bem - levantei-lhe o olhar para que ela me olhasse, ou tentasse se acalmar, mas como isso não aconteceu, aproximei os meus lábios para a beijar, pelo menos assim ela pensava noutra coisa.

Abri muito os olhos quando vi uma cara que conhecia, toda desfocada por causa das lágrimas e agarrei-me mais a qualquer coisa, continuando aos gritos e a remexer-me, até sentir uns lábios, vindos do nada, nos meus. Ao princípio ainda me debati, soltando gritinhos contra a sua boca, mas quando as ideias começaram a ficar mais nítidas, acabei por me deixar levar, agarrando-me bem a ele para o beijar melhor.

Passei a mão pela sua bochecha, puxando-a mais para mim enquanto a beijava. Ajeitei-a no meu colo assim que acalmou e também me fui afastando. Tinha sido a primeira coisa que me tinha lembrado, mas felizmente tinha resultado. - Desculpa, estavas a entrar em pânico - murmurei ainda com os lábios pertos dos dela, olhando para os seus.

O que é que se estava a passar? Nós estávamos...? Eu estava...? Fui abrindo oso lhos quando o senti afastar os seus lábios dos meus e fiquei meio atordoada, a olhar para a sua boca.
- Não...- passei a língua pelos lábios. Ai.- não faz..mal, não faz mal.- abanei a cabeça e tentei recompor-me.

Pára de olhar para a língua dela e para a boca dela e para tudo dela. Obriguei-me a levantar o olhar para os seus olhos e sorri levemente, passando as pontas dos dedos pela sua mão - sentes-te melhor? - perguntei passando água pelas minhas pernas, tentando não a molhar, mas eu já estava a ferver por causa do sol ainda para mais com sito tudo ainda estava pior.

Não olhes para os lábios dele, não olhes para os lábios dele. Abanei a cabeça, mordendo o meu lábio com força e quando me olhou para os olhos, esforcei-me por fazer o mesmo, tinha de me controlar.
- Sim.- assenti, sentindo o meu olhar descair de novo para a sua boca.- muito melhor.- murmurei inconscientemente.

Não a podes beijar Ryan, só a vais magoar cada vez mais. Que porcaria, eu fazia tudo meno ser boa pessoa, cada vez estragava mais a vida de alguém. Sorri levemente dando-lhe uma festinha na bochecha - queres levantar-te e descer outro degrau? Ou vamos tomar uma limonada fresquinha? - perguntei para nao a beijar

Eu não podia ter gostado do beijo, eu tinha o Tom...quer dizer, eu já não o tinha, mas não podia fazer-lhe isto. Se bem que tinha sido só um beijo..um beijo que eu tinha gostado, e muito por sinal. Ariel! Abanei a cabeça, só despertando ao ouvir a sua voz e endireitei-me, esforçando-me por não olhar para a sua boca. Fiquei a ponderar na sua pergunta e dei por mim a sorrir com o meu pensamento. Se descesse mais um degrau, até podia ser que ele me beijasse de novo. Oh meu deus, onde eu já ia. Abanei a cabeça, engolindo em seco e lá estavam os meus olhos de novo nos seus lábios. Fechei-os, mordendo a parte de dentro da bochecha e quando os voltei a abrir, fixei-os nos seus olhos azuis.
- Limonada.- murmurei. Bem que eu precisava de algo fresco, para refrescar as minhas ideias.

Não sei bem quanto tempo fiquei daquele modo, mas enquanto esperava que ela respondesse estive todo o tempo a olhar para os seus lábios e eu conseguia perceber que ela também olhava para os meus. Eu não podia, ela só ia ficar mais detroçada do que já ia ficar, porque quer quisessemos quer não, nós estavamos a criar um laço, eu estava a ajuda-la a superar um trauma, era o normal.
-Então vamos beber - levantei-me ficando a agarra-la para que não caísse

Eu não sabia o que é que se estava a passar comigo, mas eu não conseguia parar de olhar para os seus lábios, nem sequer conseguia controlar a vontade que tinha de o beijar outra vez. Saí do seu colo, deixando que me ele me ajudasse a levantar e quando ele também se levantou, só senti a sua respiração embater na minha cara de tão perto e colados que estávamos. Eu já tinha dito que era pequenina? Pois, era, e por isso mesmo, os seus lábios estavam ainda mais perto dos meus olhos. Engoli em seco, entreabrindo ligeiramente os meus e assenti.
- Hmhm.- murmurei, completamente desorientada.

Ignora, ignora. Olhei para o céu para ver como estava o tempo, ou fingindo que o estava a fazer e comecei a entrar em casa - queres só beber limonada? - perguntei com coração tão aos saltos que pensava que podia ser agora que ia morrer. Se não fosse agora eu proprio me matava, estava a ser tão burro - posso fazer-te uma sandes se estiveres com fome - disse virando-me de costas para ela, indo até ao frigorifico.

Eu sabia que era melhor assim, mas não consegui não suspirar quando se afastou de mim, começando a ir para dentro de casa.
- Esquece Ariel.- falei baixinho, para mim própria e limitei-me a segui-lo, entrando depois dele na cozinha. Aproximei-me do balcão, sentando-me num dos bancos que lá haviam e fiquei a olhá-lo, abanando a cabeça à sua pergunta.- não, a limonada chega.- murmurei, obrigando-me a olhar para outro lado que não ele. Eu queria tanto os seus lábios, que chegava a não conseguir respirar só de pensar. Mas não podia ser, nós não podíamos nem íamos ter nada. Apesar de eu...nada, não íamos.

Agarrei em dois copos colocando nos mesmos limonada que tinha feito de manhã e dei-lhe a dela, ficando a olha-la durante uns segundos. Estava a conter-me, estava a conter-me bastante e normalmente eu não fazia. Normalmente eu beijava quem queria, onde queria e quando queria, agora não. Não podia.
-Desculpa pelo beijo - acabei por dizer de novo.

Eu estava a precisar desesperadamente de me enfiar num buraco, e nunca mais sair de lá. Ao menos podia ser que assim conseguisse esquecer o quanto queria os lábios dele nos meus. Eu não sei se era por já não beijar ninguém há muito tempo, mas eu quase que sufocava só de pensar e ao mesmo tempo, de me aperceber que não podia. Levantei o olhar para ele, baixando-o logo para o copo e agarrei-o com ambas as mãos, ficando a olhar para a limonada. Eu queria tanto, oh meu deus. Abanei a cabeça, bebendo um grande gole e ainda com o sumo na boca, olhei para Ryan, juntando as sobrancelhas com o seu pedido de desculpa.
-Não.- abanei a cabeça, já com a boca vazia.- não peças desculpa.- mordi a parte de dentro das bochechas com força.- não te arrependas, porque eu também não me arrependo.

Dei um passo em frente, para depois dar outro atrás, sorrindo levemente com o que ela disse. Eu ia ficar maluco antes de morrer. Passei as mãos pelo cabelo que estava meio molhada e acabei por assenti com a cabeça, bebendo a minha limonada toda de uma vez - eu... - fiz uma careta e abanei a cabeça - queres ir tentar outra vez? - perguntei. Pode ser que ela tenha um... Ryan!

Acabei por baixar a cabeça, escondendo o meu sorriso por entre os meus cabelos ao vê-lo sorrir e percebi que ele tinha gostado, ou pelo menos era o que parecia. Endireitei-me, bebendo o que restava da minha limonada e desviei o olhar para ele quando me falou. Mordi o lábio, ficando a ponderar na sua pergunta, mas acabei por assentir, levantando-me. Se tinha conseguido descer dos degraus, podia ser que conseguisse mais.
- Quero.- murmurei e fiquei parada a olhá-lo.- mas só se prometeres beijar-me caso eu tenha outro ataque.- tu não acabaste de dizer isso Ariel Wales!

Sorri quando disse que queria e comecei a andar em direcção à piscina de novo, virando-me para ela quando a ouvi. Mordi o lábio e abanei a cabeça, indo até onde ela estava, agarrando-lhe na cara - eu não preciso disso para te beijar - disse antes de a beijar.

Eu não devia ter dito aquilo, pois não? Ele ia ficar todo estranho e provavelmente ia dizer-me alguma coisa que eu não ia gostar de ouvir, era não era? Mordi a parte de dentro da bochecha com força e segui-o até lá fora, até à piscina. Na verdade, nem sabia porque é que tinha dito aquilo, eu não era de dizer o que pensava, não quando isso significava demonstrar a vontade que tinha de beijar outra pessoa. Não sabia o que é que me tinha passado pela cabeça. Levantei a cabeça para olhar Ryan quando ouvi a sua voz e fiquei meio estática a olhá-lo, até sentir os seus lábios nos meus. Oh meu deus, era suposto afastá-lo? Não pois não? Agarrei-me ao seu pescoço, colocando-me em biquinhos dos pés, para conseguir ficar mais alta, e afundei as mãos no seu cabelo, mexendo nele enquanto o beijava.

Abri por um segundo um olho para a ver e percebi que estava a corresponder. Agarrei-lhe na cintura, puxando-a mais para cima e continuei a beija-la, enquanto andava na piscina, descendo quatro graus de seguida, ela já tinha água pelos quadris e nem notou. Afastei os meus lábios dos dela porque já não conseguia respirar e olhei-a à espera de uma reacção.

Sabem quando sabemos que uma coisa é errada, mas por mais que isso seja verdade, só queremos que ela continue a acontecer? Pois, eu só queria que ele me continuasse a beijar. Agarrei-me melhor ao seu pescoço quando o senti mexer-se, mas nem sequer me preocupei para onde é que estávamos a ir e só quando separei os meus lábios dos seus é que me apercebi de que já estávamos na piscina. Olhei para baixo, ainda agarrada a ele, e engoli em seco, subindo depois os meus olhos para os seus de novo.
- És muito espertinho tu.- ri-me, de forma nervosa e fechei os olhos, tentando apenas desfrutar da água que me molhava o corpo, pedindo mentalmente para não ter nenhum ataque.

Fiquei a olha-la sorrindo levemente quando se riu, apesar de estar bastante nervosa - estás agarrada a mim, estás com Deus - disse - não vai acontecer nada - mordi o lábio - vamos a um tratamento de choque, descontrai - encostei-a ao muro para que sentisse que se podia apoiar nele e passei a água pelas suas costas. - Eu tenho que ir ver o meu irmão, eu convidei-te, lembraste?

Abri os olhos devagar quando ouvi a sua voz e obriguei-me a sorrir-lhe, assentindo com a cabeça. Eu confiava nele, só não confiava na água. Inspirei bruscamente mal senti as minhas costas encostadas ao muro, mas nem por isso me agarrei a ele, continuei abraçada a Ryan. Olhei-o, enquanto ele falava e estremeci com a água que ele passava pelas minhas costas.
- Lembro.- a minha voz tremeu, fazendo-me fechar os olhos. É só água, não vai acontecer nada Ariel.- é hoje? - perguntei ainda de olhos fechados.