Sala 1

Depois de tirar o livro e o caderno, fechei o cacifo e ajeitei o meu cabelo. Sorri quando vi a Marie a passar por mim e acenei-lhe.
- Hoje vou mudar de lugar, importaste? - perguntou enquanto caminhávamos até à sala.
Abanei a cabeça e encolhi os ombros - Não, fica à vontade. - a Marie era das poucas pessoas com quem eu me dava naquela escola. Ela sabia que se passava alguma coisa comigo mas não insistia, e isso era bom.
Mordi o lábio enquanto olhava em volta e dirigi-me para uma mesa ao fundo da sala.

Estava na sala de aula à um minuto e já estava farto. Encostei a cabeça à parede brincando com o meu lápis entre os dedos e deixei-o cair para o chão quando ela se veio sentar ao meu lado. -Olá - saiu-me do nada, baixando-me para apanhar o meu lápis e olhar para as pernas dela.

Olhei para o rapaz que estava sentando ao meu lado quando me cumprimentou - Olá. - disse-lhe também virando-me para a frente quando o vi baixar-se. Cruzei as pernas e abri o caderno, desviando o olhar para a Marie que se sentava ao lado de outro rapaz, com um sorriso gigante.

Eu era tão estúpido, nem me comportar sabia quando ela estava ao pé de mim, isto era tão estranhamente estranho.
-Não estava a falar para ti - disse batendo-me mentalmente e desviando o olhar Marie e John, fazendo uma careta. - que amorosos - resmunguei para mim mesmo desenhando qualquer coisa no meu caderno.

- Ainda bem. - disse com um revirar de olhos. Recostei-me melhor na cadeira e tentei prestar atenção à aula mas estava cansada e a única coisa que me apetecia era ir para a praia surfar - Ao menos fazem alguma coisa proveitosa nesta aula. - encolhi os ombros enquanto os via a falar.

Otário. Abanei a cabeça para mim próprio e parei de desenhar quando a ouvi falar novamente. Olhei para ela e depois para eles e encolhi os ombros.
-Ele só a quer comer, ela vai cair nos encantos dele e depois vai chorar no teu ombro - disse num tom meio gozão sabendo que elas eram amigas.

Voltei a revirar os olhos e desviei a cara para ele - Mas tu tens algum problema mental? - perguntei não me importando minimamente com o meu tom e a maneira como lhe falava - Que atrasado. - abanei a cabeça e escrevi as coisas que estavam no quadro.

Revirei os olhos pelo tom a que me falou. Só estava a dizer a verdade, o John não era de certeza um rapaz de ficar numa relação séria com ninguém.
-Não, não tenho - resmunguei enquanto a olhava - só estou a dizer o que ninguém quem ver.

- Está bem, mas não precisas. - disse tentando falar baixo antes que o professor começasse a reclamar mas foi tarde de mais.
- Menina Queen, tem alguma coisa para partilhar com a turma?
Levantei o olhar do meu caderno e sorri ao homem irritante - Tenho. Muitas por acaso, mas é melhor serem só depois, não quero ferir os seus sentimentos.

Levantei o olhar para o professor quando a chamou a atenção. Coitado, já tinha destino marcado, velho, virgem e sem pneus, que coisa deprimente.
-Espero que tenha dinheiro para pagar uma viagem de táxi - falei baixinho rabiscando o meu caderno.

- Vamos lá ver, menina Queen. - disse o professor enquanto ajeitava os óculos na cara - Não quer ir falar com o diretor pois não?
Encolhi os ombros e sorri - Se formos falar em quereres, também não acredito que você queira ser assim para o resto da vida. - pousei o queixo nas mãos e fiz beicinho.

Acabei o meu avião de papel e não consegui evitar rir, assim como toda a turma. Por alguma razão eu gostava dela.
-E vocês menino Grant? - não deixei o homem falar e fiz um ar chocado mandando o avião à cara do homem.
-Estava aqui caladinho. - disse fazendo um gesto com a mão - continue a aula, bactérias anaeróbias são interessantes.

Abanei a cabeça enquanto sorria e espreguicei-me, esticando-me toda na minha cadeira - Isso, continue que tenho a certeza que estava tudo a adorar a sua aula. - afastei o caderno para o fundo da mesa e coloquei os braços na mesma, deitando a minha cabeça nos braços de seguida.

Sorri quando o professor se fartou de se chatear connosco, ainda tive uns minutos calados e sem fazer nada, mas depois virei a cara para ela agarrando no avião mais pequeno que tinha feito e mandando-o para o seu cabelo.

Abri um olho quando senti alguma coisa a cair em cima de mim e meti-me direita na cadeira. Coloquei o meu cabelo todo para a frente e peguei num avião de papel que estava lá preso - Acho que isto te pretence. - mandei-lhe o avião para cima.

Ri-me agarrando no meu avião e fiz-lhe uns desenhos para o tornar mais realista enquanto a aula não passava e quando me aborreci suspirei e voltei a mandar-lho para cima.
-Posso ir à casa de banho? - perguntei vendo o velho olhar para mim com cara de burro, assim que ele disse que podia saí da sala e fui directamente à sala de canalizações da escola, quando encontrei uma chave de fendas afiada e um martelo pequeno fui até à rua procurar o carro do professor. Sorri quando o encontrei, o homem devia ser podre de rico, claro não tinha mulher que lhe gastasse o dinheiro. Sentei-me no chão e comecei a furar-lhe os pneus e a deixa-los completamente estragados.

Voltei a tirar o avião do meu cabelo e pousei-o em cima da mesa. Levantei uma sobrancelha quando ele pediu para ir à casa de banho e olhei para o velho - Também posso ir?
O homem sorriu enquanto se encostava à sua mesa - Acha que o menino Grant precisa de ajuda? - assenti com a cabeça e controlei-me para não responder - Vá lá mas não se demore.
Sai para o corredor da escola e levantei uma sobrancelha quando vi o Dylan a sentar-se no chão do parque de estacionamento da escola. Sai para lá e apareci atrás dele - Mas que merda é que estás a fazer?

Quase morri de susto quando alguém apareceu atrás de mim e abri a boca atirando-me para o chão agarrado ao peito.
-Estás louca? Podia ter morrido com um ataque de coração! - exagerei voltando ao trabalho. Levantei-me e fui para o último pneu - estou só a fazer umas coisas - disse começando a furar. - O que é que tu estás aqui a fazer?

Tive de me controlar bastante para não me rir quando ele se atirou para o chão agarrado ao peito - Ias morrendo? - perguntei não aguentando a gargalhada. Fiquei a vê-lo a furar o pneu e sentei-me no chão mesmo ao lado dele - Estou a ver a tua obra prima.

-Ia! - disse de olhos arregalados e mordi-me todo para não sorrir quando ela se sentou ao meu lado. Bati com o martelo na chave de fendas e sorri quando ouvi o pneu esvaziar. - A obra de arte acabou - levantei-me olhando em volta e dando um murro no espelho - anda para a aula, tenho que ir buscar o meu bebé.

Levantei-me do chão quando ele pareceu ter acabado de furar os pneus ao carro do velho e sacudi os calções - Ainda falta um bocado para a aula acabar. - encolhi os ombros - Não sei se vais já buscar o teu bebé. - virei-lhe costas e dirigi-me de novo para o edificio da escola.

Passei as mãos pelo rabo e mandei o martelo e a chave de fendas para o meio dos arbustos indo atrás dela para onde quer que fosse. - Ai não? Então e tu o que é que vais fazer? - perguntei tentando desviar o meu olhar do seu rabo.

- Depois das aulas? - perguntei olhando-o por cima do meu ombro. Virei-me de frente para ele e cruzei os braços no peito - Estás com a visão desviada? - abanei a cabeça e parei à porta da nossa sala.

Assenti com a cabeça para responder à sua primeira pergunta.
-Sim, porque durante as aulas eu sei - revirei os olhos e levantei logo o olhar para a cara dela - estava só a apreciar - fiz-lhe uma careta parando à frente dela.