Hospital

Sorri ligeiramente, o que ela dizia era verdade, Mike conseguia animar toda a gente, ele era a pessoa mais genuína que alguma vez tinha conhecido. Suspirei ouvindo-a dizer que não sabia, era claro que não sabia. Nem eu sabia, o mais provável era ter que passar a viver na minha sala, visto que nem à praia eu ia conseguir ir. - Não vou andar naquilo - apontei com o queixo para cadeira de rodas que estava no fundo do carro e olhei-a engolindo em seco e sorri, embora fosse tudo menos verdadeiro. - Sim, vocês conseguem. - comentei no mesmo da mesma forma que o meu sorriso.

Eu ia ajudá-lo, ia mesmo. Ia ajudá-lo a ter a sua vida normal e ia ajudá-lo também a voltar a andar, sim, porque ele ia voltar a andar, nem que fosse a última coisa que eu fizesse, ele ia ter tudo a que tinha direito de volta, incluindo o surf. Despertei dos meus pensamentos, assim que o ouvi falar-me e desviei o olhar na direcção em que apontava, assentindo.
- Nem eu te ia obrigar a andares naquilo.- disse, dando-lhe um beijinho na testa.- tu vais fazer a tua vida normal sem precisares daquelas duas rodas para nada.- murmurei.- eu sou muito mais confortável do que aquela cadeira.- sorri-lhe, abraçando-me ao seu corpo e voltei a assentir ao que disse, apesar de saber que o seu sorriso e as coisas que me diziam não eram de todo verdadeiras.- é bom que comeces a acreditar no que te digo.- toquei-lhe no queixo, olhando os seus olhos.- porque nós vamos mesmo ajudar-te.- afirmei, esticando-me até lhe dar outro beijinho.

-És mais confortável mas não consegues comigo - murmurei olhando-a. Não estava a resmungar, ou a dizer aquilo para a magoar, porque o que eu queria fazer não podia, estava apenas a constatar um facto. Eu não conseguia andar, não conseguia sentir as minhas pernas e por isso era impossível andar ou fingir que era menos pesado do que aquilo que sou, nem ela nem o meu irmão conseguiriam comigo, e se conseguissem... também não queria que eles andassem por aí comigo ao colo, só me ia fazer sentir pior. O melhor era usar a cadeira, mesmo contrariado. - Não podes ajudar-me.

- Mas eu não vou estar sozinha, o teu irmão vai ajudar-me.- disse, depois de o ter ouvido dizer-me que não ia poder com ele e fiquei a passar as pontinhas dos dedos pelo seu braço, com a cabeça encostada ao seu ombro, até o ouvir falar de novo. Juntei as sobrancelhas, soltando um leve suspiro e tive de levantar a cabeça para o olhar de novo.- podes parar de dizer isso? - olhei-o.- nós vamos conseguir ajudar-te, nem que seja a última coisa que façamos.- encolhi os ombros.- e além do mais, tenho a certeza de que o médico te vai meter a fazer fisioterapia.- assenti.- isso vai ajudar-te e eu sei que vais melhorar.- encolhi os ombros.- por isso, vai ficar ainda mais fácil ajudar-te.

Encolhi os ombros quando me pediu para parar de dizer que ela não me ia conseguir ajudar e revirei os olhos. Era apenas a verdade, eu era muito mais pesado que eles os dois juntos, o meu irmão até era mais forte que ela, mas o mais provável era eu cair-lhe em cima e ele nunca mais se levantar, isto para além do facto de me sentir cada vez mais frustrado e inválido. Não era daquelas pessoas que aceitavam ajuda, eu lutava e só pedia se estivesse mesmo mal. Neste caso estava mesmo mal, o que me deixava ainda pior do que já estava. Suspirei desviando o olhar para a janela do meu quarto e ouvi-a falar em fisioterapia - como se fosse adiantar de alguma coisa - comentei vendo o médico aparecer de novo no quarto - não há um minuto que me deixem descansado? - perguntei irritado com a dor de cabeça a voltar e ele elevou as mãos.
-Estou aqui para falar com a Ariel.

Não precisava que Ryan falasse para saber que não acreditava em nada do que lhe tinha acabado de dizer, mesmo que estivesse a dizê-lo com a maior convicção do mundo. Eu acreditava nas minhas próprias palavras, porque é que ele não acreditava também? Eu sabia que tudo isto era difícil, e sabia o quanto ele era orgulhoso, mas se ele não acreditasse e não colaborasse, mais difícil ainda se tornava. Abstraí-me dos meus pensamentos assim que ouvi a sua voz e ia responder-lhe se o médico não tivesse entrado no quarto de novo.
- Ryan.- repreendi-o, por ter falado daquela forma, mas também não disse mais nada, desviando o olhar para o médico assim que o ouvi dizer que queria falar comigo, o que me fez juntar as sobrancelhas, sem perceber o porquê.- comigo? - comecei a afastar-me de Ryan para me levantar da cama.- o que é que se passa?

Olhei Ariel quando a ouvi repreender-me e semicerrei-lhe ligeiramente os olhos desviando depois o olhar para a janela. Estava farto disto.
*Médico*
Abanei a cabeça a Ariel, para que ela não lhe ralhasse e pousei a mão no seu ombro para a conduzir para fora do quarto e a alertar de algo que não queria que Ryan ouvisse.
-Não é nada de mau, quer dizer, não vai condicionar o estado físico dele - expliquei-lhe - eu não sei se a Ariel reparou, mas há possibilidades do humor dele estar um pouco mais agressivo ou até irónico. - não esperei que ela me respondesse e fui direto ao assunto - é claro que ele está irritado, impaciente e a sentir-se inútil por perder assim, as funções das pernas, mas isto também se deve à hemorragia que ele teve e que ainda tem. Não é nada que se tinha que alarmar, a hemorragia é muito pequena, vai acabar por parar, estamos a administrar-lhe medicamentos para que ela pare, não é preciso operar mais, mas enquanto ela existir, é normal que as emoções dele estejam mais... desorientadas - olhei para o interior do quarto - de resto ele fica bem, vou fazer-lhe uns testes motores, mas logo a seguir, vou arranjar os papéis da alta ainda hoje, para amanhã à tarde ele ir embora e começar com a fisioterapia no dia a seguir.

Olhei para trás por cima do ombro, assim que senti uma mão parar no meu ombro, mas logo percebi que era o médico e por isso mesmo, acabei por me afastar de Ryan para o seguir até fora do quarto. Fechei a porta, sem antes espreitar para olhar Ryan uma última vez, e depois sim, concentrei-me no médico.
- O que é que se passa? - voltei a perguntar, mas a verdade é que não precisei de esperar muito tempo para receber a minha resposta. Encostei o meu corpo à porta, enquanto ouvia o médico explicar-me o que se passava e cheguei mesmo a abrir a boca para falar, já com o coração aos pulos no peito, quando o ouvi dizer-me que não era caso para alarme e que eles já estavam a tratar de tudo. Agora eu percebia o porquê de Ryan estar tão alterado, ainda que, mesmo que não fosse por causa da hemorragia, seria normal ele reagir assim.- ele vai ficar bem, não vai? - perguntei depois, num tom mais baixo. Mesmo que me dissessem que sim, que ele ia ficar bem e que aquilo não era nada demais, eu não conseguia não me preocupar depois de tudo aquilo que tinha acontecido. Assenti a tudo o que o médico disse, respirando fundo para me manter calma quando voltasse para junto de Ryan e antes de falar, passei as mãos pelo cabelo, sem nunca desviar os olhos do senhor.- obrigada por tudo o que tem feito.- agradeci sinceramente.- se não fosse você eu não sei o que seria de nós.- sorri ao de leve.- muito obrigada.

-Vai, ele daqui uns dias vai estar completamente normal - fiz uma careta - bem, se ele continuar agressivo ou demasiado deprimido talvez não seja só do hematoma e da hemorragia, por isso um psicólogo é de aconselhar - encolhi os ombros, esperando sinceramente que isso não acontecesse. Sorri quando ela agradeceu e abanei a cabeça - eu só fiz o meu trabalho, enquanto o médico em que ele estava, fez completamente o contrário, mas vai ser julgado e preso por isso. - afastei-me um pouco e olhei pela porta para Ryan - vou enviar uma enfermeira para fazer o último teste

Ryan

Sentei-me na cama, com algum esforço, por causa da dor de cabeça e olhei para eles, ou pelo menos tentei, só conseguia ver o médico, Ariel estava tapada pela porta. - Vão demorar aí muito? - perguntei num resmungo.

Assenti a tudo o que médico disse, rezando mentalmente para que não fosse preciso chamar um psicólogo, por saber que Ryan não ia gostar nada disso, e acabei por esticar uma mão até ao seu braço, afagando-lhe o braço.
- Mesmo assim, podia ser o seu trabalho e não nos ter ajudado como ajudou.- disse, dirigindo-lhe um sorriso. Sentia que por mais que agradecesse ou por mais coisas que dissesse, nunca nada seria suficiente para lhe mostrar o quão grata estava. Afinal de contas, tinha sido ele a descobrir toda a verdade sobre a suposta doença de Ryan. E por falar em Ryan, virei-me imediatamente para trás assim que ouvi a sua voz.- é melhor eu ir ter com ele.- sorri levemente, abrindo a porta do quarto e dirigi-me de imediato até à cama.- já aqui estou.- murmurei, sentando-me na pontinha da mesma.- isso era tudo saudades minhas?

Revirei os olhos quando ela veio ter comigo de novo e recostei-me nas almofadas. - O médico é velho demais - comentei. Apesar de não ter consigo ver muito bem o que faziam reparei na sua mão a tocar no braço do médico e não tinha gostado. Desviei o olhar do seu corpo para o chão, sentindo-me mal pelo que tinha dito e pela forma como me sentia. Não conseguia evitar, eu não era assim controlador nem ciumento. Suspirei deitando-me na cama e olhei-a. - Desculpa - pedi num tom mais baixo com os braços cruzados ao peito. - Ele disse-te quando é que eu podia sair daqui? - perguntei. Não via a hora de ir para a minha casa, de me deitar na minha cama e ser deixado em paz, esquecer que estava um incapacitado, esquecer tudo.

- Velho demais? - fiz uma careta assim que ouvi o que Ryan disse.- velho demais para quê? - perguntei, sem perceber o que estava a querer dizer, mas por muito que quisesse ignorar, o seu tom ciumento estava a deixar-me mesmo confuso. Fiz uma careta ainda maior, sentando-me na pontinha da cama e olhei-o.- tu estás com ciúmes do médico Ryan? - perguntei, acabando mesmo por sorrir muito ao de leve.- eu só estava a agradecer-lhe por tudo o que fez por nós.- encolhi os ombros.- mas de qualquer das formas, já devias saber que só tenho olhos para ti.- disse com um sorriso, numa tentativa de lhe conseguir roubar um a ele e estiquei o braço para conseguir agarrar no seu, que estava cruzado ao peito, ignorando o seu pedido de desculpas.- disse.- assenti, respondendo à sua pergunta.- amanhã voltas para casa.- entrelacei os meus dedos nos seus, dando-lhe um beijinho nas costas da mão.- só precisas de fazer mais um exame e pronto, ficas despachado.- continuei com o meu sorriso, debruçando-me depois até ficar com a cara mais próxima da sua.- agora dá-me um beijinho, ciumento.

Sorri, ligeiramente mais contente, por me dizer que amanhã já podia ir para casa. Ainda parecia muito tempo, mas se dormisse mais passava num instante. Dei um beijinho rápido a Ariel mordendo o lábio inferior e abri-lhe a cama de modo a que ela percebesse que eu a queria ao meu lado. - Os teus pais não vêm cá, pois não? - perguntei. Não sabia se queria. Por um lado era bom ter companhia e ver pessoas novas, mas por outro só me ia lembrar do sítio onde estava e ia ter que responder a muitas perguntas que não queria.

Eu sabia que ele ainda não estava bem, ainda para mais depois de ter falado com o médico, por isso, contentei-me com o pequeno beijinho que me deu. Fiquei a olhá-lo, acabando por sorrir quando fez o mesmo e levantei-me depois, assim que abriu a cama. Descalcei os meus sapatos, pousando-os a um canto e fui deitar-me ao seu lado, com cuidado para não o magoar. Encostei-me ao seu corpo, beijando-lhe a bochecha e ia falar, caso não tivesse ouvido a sua pergunta.
- Eu posso dizer-lhes para não virem, se é isso que queres.- encolhi os ombros.- mas eles vão acabar por querer ir a tua casa visitar-te, sabes disso não sabes?

Encolhi os ombros. Não queria que eles me vissem assim, continuava a ser da mesma opinião desde o momento em que tinha acordado, só não o dizia em voz alta porque sabia que magoava Ariel. Mesmo que quisesse ficar bem com isto tudo, não conseguia mudar de pensamento de um momento para o outro. - Não queria que eles me vissem assim - disse em voz alta - mas tanto faz se é aqui ou em casa - voltei a encolher os ombros encostando a cabeça ao seu ombro. Sentia-me de novo cansado e as dores de cabeça, apesar de serem cada vez mais fracas, ainda persistiam.

Assim que o ouvi dizer que não queria que os meus pais o vissem assim, não consegui não suspirar face às suas palavras. Eu sabia perfeitamente que ele se esforçava por não exteriorizar os seus pensamentos, por saber que eu não gostava e, apesar de não gostar mesmo, eu também conseguia perceber o seu lado. Sim, porque eu também já tinha deixado de conseguir fazer aquilo que gostava.
- Eu peço-lhes para esperarem até ires para casa.- acabei por dizer, encolhendo ligeiramente os ombros.- sempre estás mais à vontade lá.- murmurei, abraçando o seu corpo assim que se encostou a mim.- e podes não acreditar em mim agora, mas eu vou ajudar-te, tal como tu me ajudas-te.- passei os meus dedos pelo seu cabelo.- porque eu te amo e nem penses que vou desistir de ti, nem deixar que tu desistas.

Assenti, começando já a preparar-me mentalmente para ir para casa. Não sabia como é que ia ser, se me ia mesmo sentir mais confortável ou se ia ser como estava a ser agora, no hospital. É que... não me sentia confortável, nem deitado, nem sentado, não sentia as minhas pernas e isso fazer com que estivesse tudo menos bem no sítio onde estava.
Fechei os olhos ao sentir as mãos de Ariel no meu cabelo. - É diferente - murmurei - tu estavas presa com medo do mar e não querias voltar, eu estou preso porque não sinto as pernas e tudo o que quero é voltar. - apesar de tudo, sorri levemente, ainda não estava habituado a ouvi-la dizer que me amava.

- Eu sei que não é a mesma coisa Ryan.- murmurei com um pequeno suspiro, quando deu a entender que o que tinha acontecido comigo e o que estava a acontecer com ele não tinham comparação.- mas tu ajudaste-me, e mesmo que não seja igual, eu vou ajudar-te a ti também.- voltei a dizer, apertando-o contra mim ao mesmo tempo que lhe depositava um beijinho na testa.- e tu vais ter fisioterapia, toda a gente te vai ajudar a voltares para o mar.- assenti, continuando com as festinhas.- tu só precisas de acreditar em ti e em nós.

-Está bem - murmurei apenas, não era que não acreditasse, ela ia ajudar-me, de todas as maneiras possíveis, o problema era comigo. Não conseguia aceitar isto. Nem sabia se a fisioterapia queria fazer. Sabia que se não o fizesse nunca ia melhorar, mas fazê-lo era admitir que estava... assim... Levantei o olhar na sua direção e estiquei a cabeça até a conseguir beijar. - Quero ir embora - murmurei ao mesmo tempo que o meu médico chegou.
-Voltei - disse ele com uma enfermeira atrás dele. Tirou um lápis do bolso dele e afastou as mantas dos meus pés passando por lá o lápis. Se ele queria ver se eu sentia a resposta continuava a ser não. Revirei os olhos abrindo a boca para falar, mas ele nem me deu tempo. - então Ryan, o teu problema não é fácil de se resolver, mas não é impossível. Já te marquei a fisioterapia e vou arranjar ainda hoje os papéis da tua alta.
-Já não era sem tempo.

Não era que tivesse ficado muito satisfeita com a sua resposta, visto que sabia que não era lá muito sincera, mas também não disse mais nada sobre aquele assunto. Já lhe tinha dito que o ia ajudar, agora, ia mostrar-lhe isso. Deixei-me ficar encostada a ele, brincando com os seus dedos e sorri ao de leve, acabando por pousar a cabeça sobre o seu ombro. Estava tão contente por ele estar ali que não conseguia colocar em palavras tudo o que sentia. Pelo menos desta vez ia conseguir ficar com a pessoa de quem gostava. Levantei a cabeça, assim que o senti virar a sua na minha direcção e correspondi de imediato ao seu beijo, acariciando a sua bochecha com a mão livre.
- Eu sei, mas já está quase.- murmurei baixinho, ouvindo a porta do quarto abrir e assim que vi que era o médico, levantei-me logo da cama, dando-lhe espaço para que fizesse o que tinha a fazer. Sentei-me na cadeira onde estava antes, ficando a olhá-los e olhei para as pernas de Ryan quando o médico as destapou. O que mais queria agora era que voltasse a andar, era só isso que pedia. Recostei-me na cadeira, enquanto ouvia o médico dizer aquilo que já sabia e, assim que terminei, sorri a Ryan.- vês? Eu disse-te que já faltava pouco.

Juntei as sobrancelhas, nada agradado quando Ariel se afastou de mim só por causa do médico ter entrado e suspirei baixinho vendo a forma como o médico olhava para os meus pés. - O que eu estou a ver é que não tens nenhuma lesão cerebral Ryan, já fizeste os exames e eu já os vi, mas isto dá-nos ainda mais certeza. É difícil, mas vais voltar a andar. - o médico sorriu e guardou as coisas nos eu bolso escrevendo algo numa folha - eu já volto com a alta - disse saindo com um sorriso.
-Isto é bom, acho eu - murmurei. Continuava com o mesmo humor em relação a tudo isto, mesmo voltando a andar não ia conseguir tão depressa voltar às competições.

Mantive-me muito atenta a todos os movimentos do médico, tentando de alguma forma descodificá-los, mas não obtive grandes resultados, visto que pouco percebia do que se estava a passar. Coloquei uma pequena mecha de cabelo atrás da orelha, remexendo-me na cadeira ao fim de alguns minutos, mas logo fiquei muito quieta quando o médico voltou a falar, dizendo que, tal como já se tinha apercebido através dos exames, Ryan não sofria nenhuma lesão cerebral e que, por isso mesmo, ia conseguir voltar a andar. Felizmente. Sorri, sentindo o meu coração acelerar-se no peito e esperei que o médico saísse para me aproximar de Ryan e agarrar-lhe na mão. Aquilo era tudo o que eu pedira para ouvir.
- Achas? - perguntei, ainda a sorrir.- como é que só achas? - abanei a cabeça.- o médico acabou de dizer que vais conseguir voltar a andar Ryan, não era isso que querias? É mais do que bom.

Apertei a mão de Ariel, sorrindo levemente e abanei a cabeça - não - respondi-lhe - o que eu quero é voltar às competições, mas depois disto duvide que volte a ser tão bom quanto era - disse desviando o olhar dela para a janela que havia do lado oposto - eu estava no auge da minha carreira - disse-lhe - e aquele filho da mãe.... - mordi o interior da bochecha ao lembrar-me do médico. A minha dor de cabeça intensificou-se com a minha raiva e eu senti necessidade de parar - vem para ao pé de mim - pedi - e não saias mais.

Baixei o olhar para a minha mão, que ele apertava, e foi-me impossível não suspirar ao ouvi-lo falar.
- Uma coisa de cada vez.- murmurei baixinho.- o importante agora é que voltes a andar, depois disso logo nos concentramos em voltares para as competições.- sorri-lhe ao de leve.- sim, porque tu vais voltar.- assenti.- ainda me deves uma competição.- apontei-lhe um dedo, mantendo um sorriso que logo desapareceu quando ele se começou a irritar, mal falou no outro médico. Mordi a parte de dentro da minha bochecha com força, sendo a minha vez de lhe apertar a mão e abanei a cabeça.- Ryan, tem calma, não penses mais nele agora.- pedi, ouvindo-o pedir-me a mim que fosse para ao pé dele e não pensei duas vezes em fazê-lo. Levantei-me da cadeira, puxando as mantas para trás e deitei-me ao seu lado, abraçando-me logo ao seu corpo.- ele vai ter o que merece.- disse.- o importante aqui é tu ficares bom.- levantei o olhar para ele, roçando o meu nariz no seu maxilar e dei-lhe depois um beijinho no mesmo.- e acalmares-te, porque estares assim não te ajuda nada.

Abanei a cabeça mas não disse nada. Duvidava que conseguisse voltar às competições na mesma forma que estava. Tinha treinado uma vida inteira para chegar onde cheguei, não era depois de velho que ia conseguir aquilo que queria. Não que fosse muito velho, mas por causa de tudo isto, acreditava que fosse perder alguns anos a voltar a segurar-me em cima de uma prancha. Só o pensamento apertava-me o coração e apetecia mandar tudo à merda. Era mesmo assim, mandar todos, incluindo-me a mim mesmo, para o caraças. - Eu estou bem - disse depois dela me ter pedido para me acalmar. Respirei fundo encostando a cabeça, que doía ao seu corpo e abracei-me a ela.