Cozinha e sala de jantar

Não me mexi mais, toda a gente me pedia calma ou diziam que ele assim não ia sofrer tanto e ele dizia que estava bem e que podia estar com ele agora. Levantei a cabeça de maxilar cerrado. - E vou poder estar contigo durante quanto tempo? - perguntei olhando-o - há quanto tempo é que sabes isto?

Fechei os olhos quando fez a pergunta que mais me ia custar a responder, porque ele ficar chateado e...
-Dois meses, se tiver sorte mais - disse engolindo em seco - há algum tempo - mordi a parte de dentro da bochecha cerrando depois o maxilar. Ele ia chatear-se comigo por não lhe ter contado logo, eu sabia que ia.

Abri a boca para falar mas não consegui dizer nada. Havia uma parte de mim que sabia o que o Dylan estava a passar mas outra não. A minha mãe tinha morrido mas eu nem a tinha conhecido, ela tinha morrida no meu parto, apesar de parecer que a tinha conhecido toda a minha vida e ainda sofrer pela sua morta, era diferente de ter estado com ela até agora e ela morrer de repente. Eu não tinha passado por nada disto, era só um bebé - Tens de aproveitar enquanto podes estar com o teu irmão. Ao menos têm tempo para estar juntos e despedir-se. - disse com um suspiro ainda colada ao Dylan.

Isto estava a ser ainda pior do que o que eu tinha pensado. Deixei que Ryan se afastasse, assim que largou a minha mão e encostei-me ao balcão, soltando um suspiro ao ver o estado de Dylan. Também eu estava assim se não tivesse prometido a mim própria que não me ia abaixo, que ia ficar bem por causa de Ryan. Senti o meu estômago contorcer-se mal ouvi a palavra despedida e tive de virar a cara durante uns segundos, respirando fundo. Endireitei-me, passando uma mão pelo cabelo e fiquei apenas a olhá-los, não dizendo mais nada.

Por mais que eu tentasse não chorar para parecer forte, quando Brooke disse que tínhamos tempo de nos despedir toda esta história ainda caiu mais fundo e tive que evitar um soluço antes que me desmanchasse em lágrimas. Deixei a minha cabeça deitada e encostada aos meus braços e abanei a cabeça - eu não quero despedir-me - disse com a voz abafada.

Tive de afastar o olhar por uns segundos ao ver o estado do Dylan antes que eu começasse a chorar também. Engoli em seco assim que consegui controlar-me e voltei a aproximar-me dele, para lhe fazer festinhas no cabelo e o tentar acalmar apesar de ter a certeza que ia ser uma missão impossivel - Dylan, isto agora não interessa. Tens o teu irmão, tens de aproveitar para estar com ele, mais nada. É só isso que tens de fazer, estar com o teu irmão.

Fica com a mesma expressão, fica com a mesma expressão. Estava a debater-me para não chorar quando ele começou a fazer o mesmo ficando a olhar para Brooke que estava a lidar com ele e ainda bem, porque se fosse eu, eu não conseguia fazer nada, tal como também não estava a fazer nada agora. - Não é uma despedida - murmurei fazendo com que ele levantasse a cabeça puxando-o para o abraçar. - vai lá para cima, amanhã falamos.

Se o meu coração já tinha desaparecido só de ouvir a palavra despedida, ficou tudo ainda pior quando Dylan começou a chorar, agora é que a minha vontade de chorar se tornava quase incontrolável. Respirei fundo várias vezes, tentando manter-me composta e aos poucos, fui virando a cara para eles, vendo-os abraçados. Mordi o lábio com força assim que o meu queixo tremeu e aproximei-me deles devagarinho, passando as pontinhas dos dedos pelas costas de Ryan, encostando-me ligeiramente a ele.

Fiquei encostado a ele quando ele me abraçou e assenti com a cabeça. Funguei afastando-me devagarinho e passei a mãos pelas bochechas levantando-me com cuidado. Olhei para Brooke engolindo em seco - vens comigo para o quarto? - perguntei, com isto tudo que se tinha passado não sabia se ela queria mais dormir cá ou não.

Afastei-me para que eles tivessem espaço para estarem juntos e assim que o Dylan se voltou a virar para mim, assenti com a cabeça - Claro que fico. - agarrei na mão dele e entrelacei os nossos dedos, puxando-o para que viesse comigo. Agora, mesmo que o meu pai estivesse bem acordado e me arriscasse a levar uma tareia das grandes, ficava cá com ele na mesma - Anda, vamos descnsar. - voltei a olhar para o Ryan e a Ariel - Boa noite.

Fiquei calada até Dylan se levantar e depois, fui para o lado de Ryan, passando uma mão pelo seu cabelo.
- Boa noite.- desejei também, com um leve sorriso e depois virei-me para Ryan, agachando-me até ficar da sua altura, tocando-lhe com um dedo na bochecha.- fizeste o que era certo, ele merecia saber.- disse baixinho.

Olhei para eles os dois mas assim que o meu olhar embateu no meu irmão em não fui capaz de dizer-lhe nada apenas assenti com a cabeça a Brooke subindo até ao meu quarto lentamente. Já tinha processado tudo e saber que daqui a pouco tempo ia ficar sem o meu irmão mais velho era como querer deixar de existir. Não estava a ser dramático, eu sempre me tinha seguido por ele e agora ele... - precisas de alguma coisa? - perguntei a Brooke para deixar de pensar.

Desejei boa noite vendo-os a ir embora e olhei para Ariel sentindo a minha respiração apertar-se aos poucos mesmo quando eu tentava fazê-lo e apesar de não querer e ter feito tudo para que aquilo não acontecesse, deixei cair a cabeça em cima do seu ombro, lavado em lágrimas.

Ao ver a sua expressão mudar aos poucos, abri a boca para dizer qualquer coisa, mas mal a sua cabeça pousou no meu ombro e ouvi o seu choro, voltei a fechá-la, soltando um suspiro. Cheguei-me mais para ele, abraçando o seu corpo, e subi as minhas mãos até ao seu cabelo, fazendo-lhe festinhas.
- Shhh.- murmurei, deixando que ele chorasse tudo o que tinha para chorar.- vai passar, eu prometo.

Agarrei-me à camisola de Ariel respirando fundo e assenti com a cabeça ainda aos tremeliques, não queria nada que isto tivesse acontecido, mas ver o estado do meu irmão tinha sido perceber e aceitar o que me ia acontecer dentro de pouco tempo - eu devia estar pronto isto - murmurei respirando fundo para me acalmar e afastei-me o suficiente limpando as minhas bochechas. A minha cabeça cada vez que doía mais, principalmente depois de agora, que tinha estado a chorar que nem uma criança.

Deixei-me ficar encostada ao seu corpo durante todo o tempo em que Ryan chorara, passando os dedos pelo seu cabelo, para o tentar acalmar de alguma forma. Esperei que parasse o choro, olhando para ele assim que o fez e passei também os meus dedos pelas suas bochechas molhadas, ajudando-o a limpá-las. Suspirei ao ouvi-lo, sentindo o meu coração apertar-se mais uma vez e estiquei-me até lhe dar um beijinho na testa.
- Ninguém tem de estar pronto para uma coisa destas Ryan.- murmurei baixinho.- e tu já estás a ser mais do que forte para aguentar com tudo isto.- disse, passando a mão pela sua bochecha húmida.- chorar faz bem de vez em quando, e tu precisas de desanuviar de alguma maneira.- voltei a abraçá-lo.- vai ficar tudo bem.

Fui acalmando a respiração à medida que sentinha as suas festinhas no meu cabelo e ouvia a sua voz - não posso aliviar-me a partir a cozinha - comentei levantando-me com cuidado logo de seguida, precisava de um ou mais comprimidos dos fortos, parecia que ia rebentar. - Preciso de ir para o meu quarto - disse com os olhos meio fechados.

Ao perceber que as festinhas o ajudavam, continuei com elas mesmo depois de me ter afastado um bocadinho.
- Podes desanuviar a falar comigo.- disse, esboçando-lhe um leve sorriso.- eu estou aqui, para tudo o que precisares.- murmurei e levantei-me assim que ele disse que queria ir para o quarto, assentindo.- anda, eu vou contigo.- disse, rodeando a sua cintura com o meu braço, começando a levá-lo para fora dali.

Abanei a cabeça quando Ariel perguntou se eu precisava de ajuda e comecei a preparar a massa. - Não, eu gosto de fazer isto - olhei-a - e tu ainda me sujas - brinquei lembrando-me da primeira vez que ela tinha cá estado. Passei os dedos na zona do nariz entre os olhos visto que me estava a doer e continuei a preparar as panquecas - vão ser uma delicia - ri-me começando logo a fazer uma.

Assenti quando disse que gostava de ser ele a fazer e foi-me impossível não soltar uma pequena gargalhada por me ter lembrado da última vez em que nos tínhamos sujado todos a fazer panquecas. Encostei-me ao balcão, ficando a apreciá-lo e as minhas sobrancelhas juntaram-se de imediato mal vi os seus dedos no nariz.
- Está a doer-te alguma coisa? - perguntei logo, sorrindo depois.- tenho a certeza que sim, mas aposto que as minhas são ainda melhores.- semicerrei-lhe os olhos com um sorriso brincalhão.

-Não, eu estou bem - tinha a certeza que não ia acreditar, mas eu também não ia ligar ao que quer que dissesse sobre parar ou descansar. Se descansasse sempre que tivesse dores só dormia. Sorri colocando a primeira panqueca para o prato e depois a segunda e a terceira, fiz apenas quatro porque não tinha muito apetite e fui ter com ela colocando-lhe chocolate e geleia à frente para que escolhesse o que queria.

Fiz uma careta quando me disse que estava bem, não achando o seu tom nada convincente, mas também não disse nada, eu sabia que era quase impossível ter o que ele tinha e estar bem. Fiquei a vê-lo fazer as panquecas, sorrindo quando terminou e estiquei-me para uma, colocando-a no prato que me pertencia. Estiquei-me para o chocolate, regando-a com o mesmo e levei um bocadinho à boca, deliciando-me.
- Estás contratado peixinho.- disse com um sorriso, piscando-lhe o olho.

Fiquei a vê-la comer a minha panqueca e ri-me ao ver a sua expressão deliciada, começando a fazer o mesmo que ela tinha feito à mesma - Ainda bem - disse-lhe eu comendo um pouco da minha panqueca - não sei se é bom ideia irmos até à praia - comentei olhando-a - podemos ir só sentar-nos na areia, já é bom - lembrei-me da festa na praia em que ela mal conseguia estar lá.

Apenas sorri com o que ele disse, continuando a comer a minha panqueca e só voltei a levantar o olhar do prato quando ele falou de novo. Suspirei com o que disse, juntando ligeiramente as sobrancelhas e abanei a cabeça, mastigando o último bocadinho antes de falar.
- Eu prometi-te que íamos.- murmurei, remexendo com o garfo na mancha de chocolate que tinha no prato.- não posso voltar atrás com o que disse.- abanei a cabeça.- assim não te vais orgulhar.- disse cada vez mais baixinho.- eu quero que te orgulhes.

Juntei as sobrancelhas com o que ela disse a puxei a cadeira mais para perto da sua agarrando-lhe na mão e beijando - eu orgulho-me de ti - murmurei - toda a gente se orgulha de ti Ariel, és uma heroína para muita gente e eu não vou morrer já - nunca se sabia - ainda tens tempo para conseguires entrar na água do mar, vamos só dar um passeio, sim? - perguntei. Não tinha certeza se ela estava preparada.