Praia Virginia Key

Passei uma mão pelo peito, tentando de alguma forma acalmar a aflição que sentia e, visto que Ryan estava no mar, eu fui obrigada a desviar o olhar para o mesmo. Engoli em seco, fechando as mãos em punho para não ter nenhum ataque e senti-me acalmar ligeiramente quando o vi, não muito longe como tinha dito, em cima da prancha. Talvez isto fosse mesmo bom para ele, talvez o ajudasse. Eu esperava que sim, eu esperava mesmo que sim.

Não conseguia explicar o quão bem eu me sentia quando me levantava em cima da prancha para surfar. É a sensação que é inexplicável e que eu gostava que todos sentissem. Já tinha apanhado algumas ondas. Agora estava à espera de conseguir arranjar uma que fosse o suficientemente grande para me despedir e sair do mar e, quando essa, finalmente, se começou a formar, eu percebi que não me conseguia levantar. O meu rabo estava colado à prancha, as minhas pernas não se mexiam e a minha cabeça em conjunto com o meu estômago, começavam a doer cada vez mais. Tinha sido algo tão repentino, ou não, que não tinha conseguido avisar Ariel. Fechei os olhos com força e agarrei-me à prancha fazendo força para me levantar, mas isso só fazia doer mais a minha cabeça. Para além da dor, ela estava pesada. - Ahh - gemi bem alto deixando a cabeça cair em cima da prancha com as mãos em cima da cabeça e quando a voltei tentar levantar, já estava a ser enrolado pela tal onda.

Como Ryan estava apenas à espera de uma onda para poder surfar eu encostei a minha cabeça aos meus braços, fechando os olhos durante uns segundos. E foi precisamente no decorrer desses segundos que tudo aconteceu. Eu não estava a ver nada, mas assim que ouvi o grito de Ryan levantei a cabeça de forma tão rápido que cheguei a ficar tonta. Não era preciso ser-se muito esperta para saber o que se estava a passar, bastava olhar para a onda que se formava e para Ryan que não se levantava da prancha, como era suposto.
- Eu sabia, eu sabia..- murmurei, enquanto me levantava muito rapidamente e estava a correr em direcção à água quando a onda embrulhou o corpo de Ryan por completo.- Ryan! - gritei, com toda a voz que tinha e, apesar de aquele ser o meu grande medo, entrar na água, eu tinha um ainda maior, que era ficar sem Ryan, por isso mesmo, quando dei por mim, já estava no mar, a tentar salvá-lo.

Não sabia o que é que doía mais, era estar a ser embrulhado pela onda com a prancha, presa ao meu pé, a bater contra o meu corpo, ou se era a minha cabeça que me deixava num estado meio inconsciente, meio consciente. Houve um momento em que consegui ir à tona e respirar, mas apenas um momento, porque o meu corpo não se mexia, nem as pontas dos meus dedos.

- Merda! - gritei, quando senti a onda molhar-me a cara toda, o que me impediu de procurar Ryan durante uns segundos, mas logo abri os olhos a algum custo, vendo-o ainda a rebolar em conjunto com a onda.- tu não lhe vais fazer mal!- gritei correndo até ele, na direcção oposta à corrente e, ao fim de algum tempo, consegui agarrá-lo. Coloquri um braço seu à volta do meu pescoço e comecei a tentar puxá-lo para fora do mar. Naquele momento eu não estava com medo, só queria sair dali e tirá-lo dali para que ficasse bem. Arrastei-o pelos braços até à areia, visto que era mais pesado do que eu, e deixei-me cair de joelhos ao lado do seu corpo, passando as mãos pelo seu cabelo cheio de areias.- Ryan.- chamei, em pânico.- acorda, por favor.- senti o meu coração tremer, só de ver o seu estado, mas logo tive de parar para ser racional, eu sabia o que fazer nestas situações, eu tinha sido treinada para isto, quando ainda andava nas competições. Passei as mãos pela cara, pousando-as depois sobre o seu peito e comecei depois a fazer pressão, para que toda a água que ele tinha engolido saísse.- vá lá.

Quando abri os olhos as dores voltaram logo, e ainda se tornaram mais graves quando eu comecei a tossir água. Conseguia perceber, pela falta de movimento que havia, que já não estava na água. Tentei falar com Ariel, porque só ela é que estava ali, só ela que me podia ter salvo, mas a minha cabeça estava a partir-se aos poucos e eu estava demasiado ocupado a gritar para conseguir falar-lhe. Fechei os olhos com força tentando recuperar a estabilidade - Ariel - chamei entre gemidos com os olhos a quererem fechar, mas eu não deixava. - dói. - disse sem fôlego.

Continuei a fazer pressão sob o seu peito, para que expelisse toda a água que tinha dentro dele e, quando isso aconteceu, segurei-lhe na cabeça para que conseguisse tossir. Escusado será dizer que se eu já estava em pânico fiquei ainda mais ao vê-lo sangrar das orelhas e do nariz. Pousei a sua cabeça de novo na areia, olhando para as minhas mãos ensaguentadas e se ti o meu queixo tremer, mas, não deixei que isso me parasse. Tirei o meu telemóvel do bolso, marcando o número para chamar uma ambulância e foi então que o ouvi. Desviei o olhar para ele,com o coração prestes a saltar-me do peito.
- Estou aqui.- disse num tom calmo, estremecendo quando o ouvi gritar com dores.- vai ficar tudo bem, eu prometo.- pisquei os olhos para afastar as lágrimas e depois de dar a morada aos paramédicos, pousei o temóvel, agarrando-me à sua mão.- aguenta só mais um bocadinho, está bem? Por mim, aguenta Ryan.- disse e mal vi os seus olhos fecharem apertei-lhe a mão.- aguenta, a ajuda já vem a caminho, tu vais ficar bem.

Não era suposto eu estar a morrer assim pois não? Eu tinha visto filmes, devia estar na minha caminha, e morrer como se estivesse a dormir. Mas eu era teimoso e nunca parava numa cama. Contorci-me, ou pelo menos achava eu, e apertei a mão de Ariel que sentia ao meu lado. Forcei os meus olhos a permanecerem abertos, o que cada vez se tornava mais difícil. - Tu - apertei-lhe a mão para respirar - conseguiste. - no meio daquilo tudo ainda consegui sorrir, ou fazer um esgar, puxei um lábio para um dos lados na forma de um sorriso, até o perder por completo, e voltar a desmaiar.

Eu sentia o mundo a ruir à minha volta, isto não devia estar a acontecer, a doença dele não devia estar a acontecer nem isto devia ter acontecido, nós devíamos estar em casa, abraçados e felizes porque iríamos ficar juntos para sempre. Nada disto era suposto. Abanei a cabeça, sentindo as lágrimas deslizarem-me pela cara molhada e não me importei por ter de o olhar naquele estado quando falou para mim.
- Shh.- murmurei baixinho, tentando controlar o choro.- não te canses.- disse-lhe, continuando a apertar-lhe mão e todos os meus sentidos despertaram quando o vi fechar os olhos.- não! - gritei.- Ryan, acorda.- abanei-o ligeiramente, mas logo fui impedida de o fazer pelo som da sirene que se fez ouvir. Desviei o olhar na direcção da mesma e vi os paramédicos saírem da mesma.- ajuda! - gritei para que me ouvissem, em pânico.- ele precisa de ajuda, ele tem de ficar bom! - voltei a gritar, voltando depois o olhar para ele.- ouviste? Tu tens de ficar bom, eu preciso de ti, por isso, acorda Ryan.- implorei e quando senti a presença dos paramédicos junto de mim, só consegui largar-lhe a mão quando um deles me agarrou.

Ryan estaria morto se os paramédicos chegassem uns minutos mais tarde do que já chegaram. A hemorragia invasiva e a pressão no seu cérebro estava a deixa-lo cada vez mais sujeito a mazelas cerebrais. Os paramédicos agarraram em Ariel para que ela se afastasse do corpo de Ryan e apenas um ficou a seu lado a tentar acalma-la e a dizer que todos iam fazer o possível. Não havia nada para fazer ali, ele precisava de uma operação enquanto ainda tinha tempo. O mais rápido era ir ao hospital de Miami e não ao que ele ia às suas consultas. Meteram-no dentro da ambulância com o pescoço imobilizado e alguém lhe retirando o sangue do nariz e das orelhas para que ele não se afogasse nele próprio. Disseram a Ariel para ela entrar e se manter afastada a um canto, para deixar os profissionais trabalharem e depois de tudo preparado meteram-se a caminho para o hospital mais rápido.

Debati-me contra os braços do paramédico, não conseguindo retirar os olhos de Ryan e só parei quando ele falou para mim, dizendo que iam fazer os possíveis para o ajudar.
- Vocês têm de conseguir.- murmurei, sentindo de novo as lágrimas deslizarem-me pela cara e vi o homem assentir. Passei ambas as mãos pelas bochechas, reprimindo um soluço e entrei na ambulância, colocando-me a um canto como me tinham dito. Elevei as pernas, dobrando os joelhos para as encostar ao meu peito e abracei-me às mesmas, ficando a olhá-los. Se eles fizessem algo de mal, se eles o metessem pior do que já estava, eu era a primeira a dar cabo de tudo e todos. Abanei a cabeça, sentindo o meu queixo tremer e engoli em seco, sentindo o bater do meu coração ecoar-me nos ouvidos. Eu não podia ficar sem ele, nem agora nem nunca.

*continuação do narrador fofo*

-Tensão a cair, despacha-te George - bateu um dos paramédicos na janela da ambulância e do outro lado George parou. Tinham chegado ao hospital. O paramédico que tinha estado com Ariel disse para ela se meter atrás deles que um médico logo ia falar com ela para saber o que se tinha passado concretamente. Tiraram Ryan da ambulância e foram a passo apressado para as urgências de onde veio logo um monte de enfermeiras e médicos para perceberem o que tinha acontecido. Um dos paramédicos disse como ele tinha sido encontrado e o que ele tinha, ou o que supostamente tinha. Foi aí que os médicos entraram em desacordo. Um queria opera-lo de imediato o outro queria fazer exames para saber o que lhe tinha acontecido. Felizmente, quem ganhou foi o médico que queria fazer exames, caso contrário, Ryan não teria chances. Uma enfermeira olhou para Ariel, vendo o seu estado e foi ter com ela perguntando-lhe o que tinha acontecido ao certo.

Levantei a cabeça de repente quando ouvi um paramédico falar para o outro e endireitei-me, tentando perceber o que se passava.
- O que é que se passa? - perguntei, com o coração a acelerar-me no peito, passando ambas as mãos pelas bochechas molhadas. Mas, como seria de esperar, nenhum dos dois me disse alguma coisa.- alguém me pode dizer o que se passa? - voltei a perguntar, prestes a desesperar, mas a única coisa a que tive direito foi a um deles me dizer que tinha de sair atrás deles, visto que já tínhamos chegado ao hospital. Levantei-me, meia desorientada e consegui olhar para Ryan, mas eles estavam a andar tão depressa que mal tive tempo de ver como estava. Abanei a cabeça, andando apressadamente atrás deles, mas assim que chegámos à porta que dava acesso à sala de operações e aos quartos, eu fui impedida de entrar.- Ryan..- chamei baixinho, deslizando uma mão pela porta e abanei a cabeça, encostando-me à mesma, deixando o meu corpo deslizar.- eu preciso de ti, tens de ficar bom.- continuei a falar baixinho, como se ele me pudesse ouvir e fui obrigada a levantar a cabeça quando senti a presença de alguém junto de mim. Era uma enfermeira. Olhei-a, visto que se sentou no chão ao meu lado e, com calma, contei-lhe tudo o que tinha acontecido, do que me lembrava visto que só conseguia pensar em Ryan.- ele tem de ficar bom. prometa-me que ele vai ficar bom.- solucei, sentindo-a acariciar-me os cabelos.
- Os médicos vão fazer tudo o que puderem, isso posso prometer-lhe.- disse-me.- e eu prometo que lhe venho dizer alguma coisa assim que tivermos novidades, está bem? - assenti.- tente acalmar-se.- murmurou e depois levantou-se, deixando-me sozinha.

Com o resultado dos exames, que saiu bastante rápido, os médicos ficaram sem saber o que fazer. Um deles, enquanto os outros começaram a tratar-se da hemorragia e o preparavam para a operação, foi ter com Ariel muito confuso. - Menina? - perguntou ele baixando-se até ficar à altura de Ariel - disse que o seu namorado estava a morrer de cancro? - perguntou-lhe calmamente.

Eu devia estar com um aspecto horrível porque cada vez que alguém passava por mim no corredor, eu sentia o olhar dessa pessoa preso na minha cara. O mais provável era estar toda despenteada e borratada, além de que estava a tremer quer de nervos quer de frio, por ainda estar húmida. Mas eu não queria saber de nada disto, só queria que me viessem dizer que Ryan estava bem, era só isso que eu queria. E parece que as minhas prezes foram ouvidas porque, de um momento para o outro, ouvi a voz de um médico junto de mim. Levantei a cabeça de repente, olhando-o e limpei a cara antes de falar.
- Sim.- respondi, algo confusa por me estar a fazer aquela pergunta.- porquê? - perguntei logo.- o que se passa? Ele está bem?

O médico juntou as sobrancelhas totalmente confuso e abanou a cabeça. - Ele não está bem, mas está melhor do que pensa - disse-lhe - fizemos-lhe exames e nada indica a presença de um tumor ou cancro, a tensão dele está cada vez a baixar mais, mas... - o médico abanou a cabeça totalmente confuso - nós vamos contactar o médico dele, mas agora ele vai de imediato para o bloco operatório para parar a hemorragia. - levantou-se e viu que Ariel estava molhada - se quiser mudar de roupa pode ir a casa, vai demorar.

Assim que o médico começou a falar, o meu coração começou também a bater ainda mais rápido, se é que isso era possível. Não havia cancro? Isso queria dizer que..como é que isso era possível. Abanei a cabeça, ainda com o coração a bombardear-me os ouvidos e olhei o médico, tentando não ter ali um ataque de pânico.
- Como é que isso é possível?- dei voz aos meus pensamentos.- eu fui com ele à consulta.- abanei a cabeça, sentindo a minha visão ofuscar-se.- o que é que se está aqui a passar?- era óbvio que o que eu mais queria era que aquela doença não passasse de uma mentira, mas isto era tudo demasiado confuso para mim. Ignorei o que o médico me disse, abanando apenas a cabeça e fiquei a olhá-lo, em pânico, à espera de uma explicação.

O médico respirou fundo, ele não tinha muito tempo para estar a explicar-lhe e, aliás, ele também não sabia. - Eu não sei explicar-lhe agora o que se está a passar- disse-lhe ele - mas vamos falar com o médico dele, vamos esclarecer tudo, ele vai ser operado agora e se tudo correr bem vamos fazer mais exames e tentar perceber o que é que aqui se está a passar - olhou-a. - a cirurgia vai demorar de oito a dez ou mais horas, vai demorar bastante, pode ir descansar.

Aquilo estava mesmo a acontecer? Ele ia ficar bom? Ele não ia morrer? Eu sentia que nada disto fazia parte da realidade, eu sentia que no meio de tanta coisa má isto era bom demais para ser verdade.
- Isso quer dizer que ele vai ficar bom? - falei para o médico, com os olhos cheios de lágrimas, e assim que me apercebi do que estava mesmo a acontecer, lancei-me para os seus braços, num choro incontrolável.- obrigada.- solucei.- muito obrigada.- voltei a dizê-lo, mas assim que o ouvi dizer que a operação ia durar muito tempo percebi que ainda não podia estar descansada por completo.- desculpe.- pedi enquanto me afastava, ainda a tentar processar tudo aquilo e tentei controlar o choro, passando as mãos pelo meu cabelo molhado.- eu não quero sair daqui.- respondi-lhe.- vá tratar dele, eu fico aqui à espera de notícias.- murmurei com a voz tremida.- tem de o por bom, ouviu? Eu preciso de lhe dizer que o amo, ele precisa de saber.- eu já o sabia há muito tempo, no fundo, e este medo incontrolável de o perder só me tinha dado ainda mais certezas disso.

Pouco depois de o médico entrar na sala de operações, onde estavam a rapar o cabelo de Ryan para conseguir fazer a operação, apareceu o médico dele, aquele que lhe tinha dito que ele estava a morrer de cancro. Exigiu ser ele a opera-lo, mas isso não aconteceu e o homem foi expulso para a sala de espera, onde também estava Ariel, mas mal a viu e reconheceu, saiu sem dizer nada daquela sala, para ir para a entrada, visto que não podia abandonar o hospital até que a tarefa estivesse completa.
A cirurgia não estava a ser fácil, havia cada vez mais sangue, mas Ryan aguentou-se muito bem. O médico que tinha mandando Ariel embora para casa aproximou-se de novo dela, que não estava com muito bom aspecto.

Acho que nunca o tempo tinha passado tão devagar para mim. A sala de espera estava deserta e o único som que se ouvia era o tic tac do relógio que estava pendurado na parede, o que me stressava ainda mais. Estava emocional e fisicamente esgotada, mas não conseguia parar para descansar, sabia que as notícias podiam sirgir a qualquer momento. Porém, houve um momento em que os meus olhos se fecharam durante segundos, mas graças ao barulho do relógio, abri-os logo de seguida. Tinha de me manter acordada, custasse o que custasse. Levantei-me, andando de um lado para o outro e aproveitei para mandar uma mensagem a Dylan, avisando-o do que se estava a passar. Voltei a deixar-me cair bo banco, já sem forças e passei as mãos pelo cabelo, em desespero. Agora percebia o porquê de dizerem que o tempo era o nosso pior inimigo, ou pelo menos, estava a ser o meu naquele momento. Balancei o meu corpo para a frente e para trás, sentindo os meus olhos secos e já sem lágrimas e quando me endireitei, o meu coração quase me saltou do peito ao ver o médico entrar, o médico que tinha operado Ryan. Levantei-me de um salto, tendo de me agarrar à cadeira para não cair, de tão fraca que me sentia e aproximei-me logo dele.
- Já acabou? - perguntei.- ele está bem? Diga-me que ele está bem.- supliquei.

O médico olhou para Ariel como se a estivesse a julgar. - Não pode estar nove horas sem ter nada no estômago -disse ele a adivinhar tudo e foi até à máquina que ali estava para lhe tirar uma sandes e um sumo, dando-lhe e agora sim, decidiu falar do Ryan. - Não posso dizer que ele está bem, porque não está, mas está vivo e pode vir a manter-se - frizou bem o pode - as próximas quarenta e oito horas vão ser decisivas, e mesmo que ele acorde, pode não estar bem - o médico hesitou antes de continuar - ele pode ter sequelas graves, pode não conseguir voltar a falar, pode estar cego, pode estar paralisado, ou pode perder a memória. Não vai ser fácil.

Tentei focar o médico quando tudo o que nos rodeava começou a andar à roda e juntei ambas as sobrancelhas quando me disse que não podia estar tanto tempo sem comer.
- Eu não tenho fome.- disse, mas não valeu de nada visto que pouco depois já ele me estava a estender uma sandes e um sumo. Fiquei a olhar para aquilo, a pensar se deveria aceitar ou não, mas acabei por fazê-lo, visto que não me estava a sentir muito bem.- obrigada.- murmurei apenas e depois calei-me, ficando a ouvi-lo com muita atenção quando começou a falar de Ryan. O meu coração apertou-se, ao ouvi-lo dizer as coisas que lhe podiam acontecer, mas não deixei que isso levasse a melhor de mim, apesar de me estar a sentir a morrer por dentro.
- Ele vai ficar bom.- disse, sem saber qual dos dois queria convencer, se era ao médico ou a mim.- ele é forte.- assenti e subi o olhar para o do médico.- posso ir vê-lo?

O médico sorriu com o que a rapariga dizia e assentiu - esperemos que sim - levantou-se e abanou a cabeça - ele ainda não está no quarto, agora está a levar os pontos e estão a prepara-lo. E mesmo depois dele já estar instalado não devia entrar, mas com tudo o que está a aconteceu, eu abro uma excepção - o médico ainda não percebia e tinha que falar com o médico que lhe tinha dito que ele tinha cancro. Era impossível um homem com tanta experiencia não saber distinguir.

Como tudo o que menos me apetecia fazer naquele momento era sorrir, limitei-me a assentir ao que o médico disse. Acabei por desembrulhar a sandes, dando uma pequena trinca na mesma, e voltei a olhar o médico enquanto mastigava, sentindo o coração apertar-se no meu peito quando me pareceu que ia dizer que eu não podia ir vê-lo. Juntei as sobrancelhas, sentindo o meu queixo logo tremer, mas nem tive tempo de deixar as lágrimas cairem assim que o ouvi dizer que ia abrir uma excepção, se bem que elas deslizaram pelas minhas bochechas na mesa.
- Obrigada.- murmurei, fungando.- eu prometo que não faço nada, eu só preciso de o ver.